Sérgio Caldeira

Revista Carga Pesada

O ano era 1956, o mesmo em que o progressista Juscelino Kubitschek se tornou presidente do Brasil. O local escolhido foi um terreno em uma cidade nos arredores da capital paulista: São Bernardo do Campo. Ali, foi erguida a primeira planta industrial da Mercedes-Benz fora da Alemanha. 60 anos antes, em 1896, na Alemanha, a Daimler-MotorenGesellshaft, fundada em Cannstatt (atual bairro de Stuttgard), apresentava seu primeiro veículo de carga, projetado por Gottlieb Daimler, um dos responsáveis por este legado que já soma 120 anos.

Anúncio do lendário L-312

Em 1956, no Brasil, somente a Ford, no bairro Ipiranga, na zona sul da capital Paulista, montava caminhões e, mesmo assim, com motores a gasolina apenas. Enquanto divulgava a vantagem de seus produtos (chassis para ônibus e caminhões) no recém-explorado território, a Mercedes ia consolidando sua vasta rede de revendedores que somam hoje cerca de 250 casas, sendo a pioneira, a Avepe, em Oliveira (MG).

O modelo escolhido para iniciar o mercado tupiniquim era o L312, um caminhão moderno para a época, já equipado com motor diesel de injeção indireta e quatro cilindros em linha, sendo que a maioria dos concorrentes ainda apostava na gasolina para o desenvolvimento de seus engenhos. A inauguração oficial foi em 28 de setembro de 1956.

Em seguida, vieram na linha de montagem de caminhões vários outros projetos bem sucedidos como o LP321 na década de 60 (um cabine avançada, mas que não basculhava a cabine), o L608D (o famoso mercedinho) o L1113 (campeão de vendas com mais de 200 mil unidades vendidas no mercado interno), os 1519 (com seu peculiar motor MB OM-355/5 de cinco cilindros) e seu primeiro cavalo mecânico para carretas de três eixos, o LS 1924 na década seguinte, o L1620, o LS1935 na década de 90, e mais recentemente, a linha Axor entre tantos outros.

Em 1996, com a queda do dólar, a Mercedes-Bens do Brasil (MBB) decidiu importar algumas unidades do seu frontal alemão da linha SK, o 2038S, com motor V8, que já estava sendo substituído pela linha Actros na Europa. Em seguida, lançou o LS 1938 4X2, o primeiro nacional com sistema eletrônico de injeção e freios a disco nos dois eixos. Seus sucessores, o LS 1634 e o Atron LS 1635 foram os últimos caminhões bicudos (cabine semi-avançada) a continuarem no mercado e, juntamente com o 2324, já estão se despedindo da linha de São Bernardo.

Tanto sucesso fizeram da Mercedes uma fabricante completa de veículos comerciais, incluindo-se aí os saudosos ônibus de motor traseiro monoblocos, como os O321, O 355, O 364, O 370 e suas variações, descontinuados na virada do século, mas com uma grande oferta de chassis (os OF para motor dianteiro e OH, para traseiro) a serem encarroçados por terceiros, de microônibus a superarticulados.

Hoje, sua gama comercializada no Brasil vai de veículos comerciais semileves de uma tonelada de capacidade de carga até 500 toneladas de CMT no Actros 4160 8X8 V8, produzido em terras tedescas. Atualmente, são mais de 200 versões de caminhões em seu catálogo.

Os produtos MB foram decisivos para o crescimento da economia nacional como na construção de diversas obras de relevância como a represa de Itaipu, a ponte Rio Niterói, diversas rodovias, além da construção de Brasília, inaugurada em 1960.

Segundo Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO América Latina, a cada 10 caminhões da frota circulante nacional, estimada em mais de cinco milhões de veículos comerciais de carga, quatro levam a estrela de três pontas na grade e seis, em cada dez ônibus, são MB. Nestes 60 anos foram produzidos cerca de 1,45 milhão de caminhões de diversas categorias e modelos pela MB de São Bernardo, sendo que 1,2 milhão ficaram no mercado interno.

Ao todo, durante estes 60 anos, quase 3 milhões de motores foram produzidos no Brasil e cerca de 100 mil pessoas trabalharam ou ainda continuam marcando sua presença na MBB de São Bernardo, que absorve cerca de 12 mil colaboradores atualmente.

DE OLHO NO FUTURO

Mesmo com toda a turbulência do mercado neste ano, a MBB não vai deixar passar em branco esta data tão relevante. E decidiu comemorar os 60 anos de operação de sua unidade no ABC paulista em grande estilo: anunciou investimentos de 1,3 bilhões de reais até 2018, incluindo a nova fábrica de Iracemápolis, e trouxe para o Brasil o seu Caminhão do Futuro 2025.

O veículo reúne todos os recursos tecnológicos que agregam conforto, eficiência e segurança com pouca necessidade de interferência por parte do motorista, que estará cada vez mais monitorado. Está equipado com sistema de leitura de faixas de rolamento, sistema ativo de frenagem e de condução autônoma.

Além disto, o caminhão tem dispositivos eletrônicos de condução conjunta, que permite o tráfego em comboio, sem a interferência dos motoristas das outras unidades, de modo que cada veículo trafega a uma distância muito curta do veículo da frente (diminuindo o espaço ocupado no deslocamento). Eles utilizam parâmetros de aceleração, distância de seguimento, frenagem e correções, de acordo com o caminhão que lidera o comboio, através de sensores e câmeras e outros componentes de assistência à condução.

Há promessa de grande economia de combustível, visto que não existe resistência aerodinâmica importante para os veículos que se posicionam atrás da unidade à frente do comboio e se aproveitam do vácuo gerado por ele. Os caminhões vêm preparados para ter interface com o fabricante, com outros veículos, com terminais de carga, com o sistema rodoviário, o provedor logístico, o transportador e até mesmo o agente financiador, tudo a base de conectividade e telemetria. (CLIQUE AQUI E SAIBA MAIS)

Independentemente dos obstáculos para se implantar tal tecnologia no Brasil (vale lembrar que muitos caminhões Actros já são equipados com alguns destes recursos), 1,167 milhão de caminhões MB circulam pelas rodovias e cidades brasileiras, comprovando que outros 60 anos de sucesso e inovações virão no caminho estrelado da Mercedes-Benz do Brasil.