A Revista Carga Pesada está completando 40 anos. Parece que foi ontem que circulamos pela primeira vez em edição impressa preto e branco. Mas já faz muito tempo. Um relato feito pelo jornalista mineiro Luciano Alves Pereira sobre a indústria de caminhões dos anos 1980 revela quanta coisa mudou desde então.
A Mercedes-Benz dominava metade do mercado. Entre os concorrentes da montadora estavam Agrale, GM, Ford, Volkswagen e Iveco, que ainda se chamava Fiat Diesel. A Volvo começava a ganhar espaço e a Scania já tinha sua clientela nos modelos mais pesados.
A esmagadora maioria das cabines era recuada ou semiavançada. Os caras-chatas só começaram a se impor nos anos 1990, em que pese os Volkswagen e Ford Cargo terem nascido ‘frontais’. Conforto pouco importava. Mulher ao volante, zero. Muita gente trocava os bancos da boleia por sofás-camas. Cama mesmo, só nos pesados. O corpo do estradeiro.
Os desafios do caminhoneiro
O Brasil como um todo mudou muito desde a nossa primeira edição. Quando circulamos pela primeira vez, o País ainda não havia superado o regime militar iniciado em 1964. A ditadura acabou poucas semanas após o nosso primeiro número ser distribuído.
A economia brasileira, acredite se quiser, era bem pior. A inflação descontrolada só foi debelada uma década depois com o Plano Real. As dificuldades econômicas levaram os caminhoneiros a fazerem várias greves, como a de 2001, que foi tema da nossa edição na época (ver ao lado).
E o Brasil aprendeu que, sem o trabalho desses profissionais, as cidades ficam desabastecidas e a economia desaquece.
Quando começamos a circular, a categoria não gozava dos direitos dos demais trabalhadores, como a uma jornada limitada de trabalho e ao descanso semanal remunerado. Só em 2012 é que foi aprovada a Lei do Descanso (12.619), depois substituída pela 13.103, em 2015.
As mudanças tecnológicas
Quando fomos para a estrada pela primeira vez, os caminhoneiros se comunicavam por PX e quem queria ver suas opiniões publicadas na revista tinha de preencher carta-resposta, colocar nos Correios e aguardar a edição seguinte. Hoje, a participação é imediata pela internet.
Ao longo da nossa trajetória, tivemos de nos reinventar diversas vezes em virtude das mudanças tecnológicas e do mercado editorial.
A Revista Carga Pesada foi uma das primeiras do setor a ter um site. O www.cargapesada.com.br foi implantado em janeiro de 1997.
Em 2017, fomos um dos primeiros veículos a lançar uma edição exclusivamente digital, ilustrada com fotos e vídeos e interatividade. Hoje, estamos presentes em todas as redes sociais.
Temos orgulho de dois grandes projetos que realizamos: A Carvana Ecológica – Estrada Verde, Água Limpa e o Carguinha. O primeiro, feito em parceria com a Volvo e o Ministério da Cultura, rodou o Brasil por 15 anos, discutindo a importância da preservação do meio ambiente nos postos de combustíveis, com apresentação de peças teatrais que foram assistidas por milhares de caminhoneiros.
O segundo projeto, a Revista Carguinha, foi a primeira publicação voltada para filhos de caminhoneiros.
A participação das mulheres
As mulheres estamparam nossas capas em diversas ocasiões, como a gaúcha Sheilla Marchiori, que não deixou de dirigir nem mesmo quando estava grávida do filho Bernardo, em 2016.
Recentemente, participamos da fundação do movimento Rota Feminina, que busca incentivar a igualdade de gênero no setor
Apear dos nossos 40 anos de estrada, ainda temos muito gás para seguirmos em frente. Contamos com o apoio de vocês.