Ralfo Furtado

Revista Carga Pesada

Faz quatro anos que a SL Pneus & AutoLins implanta um ambicioso sistema de controle digital de toda a sua produção de quase 10 mil pneus restaurados por mês. Foi preciso instalar uma rede de fibra ótica interna, tanto na unidade de São Bernardo do Campo, quanto na de Araraquara, conexão sem fio (“wifi”) no prédio inteiro até o fundo da fábrica, quatro operadoras de internet ao mesmo tempo, com um sistema automático que detecta a melhor opção de sinal em cada lugar. E ainda computadores de mão (tablets) conectados por todo lado, em todos os departamentos e com os motoristas dos 17 caminhões que fazem coleta e entrega diária de pneus, além de muito treinamento com todos os 120 funcionários.

A inovação é uma das marcas da empresa, criada em 1957 por Sonia e por Levi Cardoso, os fundadores. Eles começaram reformando pneus tanto de passeio quanto de veículos pesados. Tinham uma autoclave importada na qual cabiam quatro pneu. A máquina está guardada na SL para um dia virar peça de um museu, conta Priscila, diretora financeira e administrativa e filha do casal. Hoje, a empresa tem 10 autoclaves que comportam entre 20 e 22 pneus de carga cada uma para vulcanização ao mesmo tempo.

Segundo Cezar Nascimento, gerente de Qualidade da SL, a empresa tem capacidade para processar 15 mil pneus por mês e, atualmente, opera com aproximadamente 50% desta capacidade em um único turno. A unidade de Araraquara reforma mensalmente outros 1.500. “O setor, em geral, teve queda de 13% no ano passado e a nossa empresa teve zero a zero, nem teve queda nem cresceu”, afirma ele, comparando 2015 com 2014.

De acordo com Priscila, o bom desempenho do negócio, apesar da crise, se deve ao prestígio e dedicação da SL Pneus & AutoLins, que capta e devolve pneus diariamente num raio de 150 quilômetros em torno de São Bernardo do Campo e outros 150 quilômetros de raio a partir da sua fábrica de Araraquara. “Mas, dependendo da proposta do cliente, da quantidade de pneus, podemos buscar mais longe, até no Rio de Janeiro ou no Paraná”, afirma a diretora.

Há mais de 20 anos, a família adquiriu uma outra empresa bastante conhecida e conceituada do mesmo ramo, a AutoLins, e os dois nomes foram mantidos juntos. Levi faleceu em janeiro deste ano, mas os três filhos já vinham tocando o negócio na última década: além de Priscila, Alexandre é o diretor comercial e Paulo Henrique comanda as áreas tributária e industrial.

Funciona assim: às 7 ou 8 horas da manhã, os caminhões da reformadora de pneus passam pelas garagens dos clientes (principalmente transportadoras, empresas de ônibus, de recolhimento de lixo e – no caso da unidade de Araraquara – da indústria canavieira) para devolver os pneus prontos recolhidos no dia anterior e levar outros. Quando o motorista do caminhão capta os pneus, ele os registra no seu tablet. Os dados são transmitidos automaticamente para a empresa. Assim, antes de o motorista chegar, a fábrica já sabe quantos pneus ele está levando e qual o prazo que o cliente precisa.

Entram de 300 a 350 pneus por dia para serem reformados. Todo o trajeto do pneu dentro da fábrica, os insumos utilizados, os horários, tudo é acompanhado por código de barras e computadores…e até robôs! O robô raspador, por exemplo, é o único do Brasil que raspa dos dois lados. “Pode parecer desimportante, mas outras empresas do setor que têm um robô como este, que faz a raspagem homogênea e uniforme, têm um robô que vem e raspa o pneu colocado no suporte e espera o pneu ser tirado e outro pneu ser colocado no suporte. O nosso é exclusivo, foi encomendado assim: ele tem dois ‘braços’. Ele vai e volta. Raspa um pneu enquanto outro pneu é colocado no suporte atrás dele. Termina um e vai para o outro, não para nunca”, explica Cezar. Até dentro de cada autoclave, os 22 pneus são monitorados individualmente. “Não tem uma diferença de pressão em um pneu em toda a fábrica que não esteja registrada nos computadores”, afirma.

Para dar conta de toda essa atividade, a unidade de São Bernardo do Campo tem quatro caldeiras que operam com três tipos de combustível (óleo, lenha ou gás) conforme a conveniência econômica do momento.

A SL Pneus & AutoLins trabalha com tecnologia da italiana Marangoni e da Novateck, que inclui o exclusivo sistema “Ringtread”: um anel de banda de rolagem na medida exata do pneu, sem emenda, que envolve toda a carcaça raspada do pneu, quando essa for a solução mais apropriada, e a máquina que a coloca com precisão. “Só a Pirelli tem uma máquina assim, que a Marangoni desenvolveu especialmente para ela”, conta Cezar, deixando claro, no entanto, que a reformadora tem o “arquivo” de todos os fabricantes de pneus, para devolvê-los às suas melhores condições.

Logo que chega na fábrica, o pneu é encaminhado para o que apelidaram de U.T.I. De lá vem o diagnóstico do que o pneu precisa, que tipo de serviço, que tipo de “manchão” (tem o nacional e o importado, da Alemanha, que é mais flexível e abrangente, próprio para os lados do pneu). Tem pneu que é reprovado e é devolvido para o cliente, sem custo, com um laudo explicando o porque ele não tem mais jeito. “Nós fazemos o máximo possível para aceitar o pneu para reforma e ganhar com isso, pois se o devolvermos, todo o nosso trabalho de coleta, análise e devolução foi grátis”, conta Priscila.

“Como parte do nosso serviço, podemos enviar nosso pessoal para passar um dia, por exemplo, na empresa do cliente, dando treinamento para os funcionários dele sobre uso adequado, medições e calibragens, quando detectamos que os problemas nos pneus dele precisam dessas soluções”, enfatiza Cezar.

Hoje, o cliente pode solicitar um histórico de tudo que ele gastou a qualquer momento. O próximo passo, segundo a diretora, é o próprio cliente poder monitorar tudo à distância, em tempo real, cada instante do seu pneu “doente” desde que foi coletado pela “ambulância” até o retorno ao lar. “Ainda não podemos oferecer isso, por conta da instabilidade da internet. Não queremos frustrar o nosso cliente. Se ele não conseguir acompanhar o processo, pode não ser culpa nossa, não podemos prometer”, pondera Priscila.

A perspectiva de 2016 parece boa. O volume de trabalho nos dois primeiros meses já é superior ao mesmo período do ano passado. “Estamos estocados”, afirma a diretora.