“A cidade vai virar uma China. Cada dia tem mais ‘ching ling’ nas ruas, esses veículos importados para 1.500 quilos, e o caos aumenta. O valor do frete vai explodir em São Paulo.” É a opinião do presidente do Sinditanque, Bernabé Gastão, um dos líderes do movimento grevista do início de março. “A sociedade não quer caminhão na rua. Então, vai pagar mais caro por seus produtos.”
Junto com o presidente do Sindicam-SP, Norival de Almeida Silva, Gastão coordenou a reunião com cerca de 500 caminhoneiros – a maioria tanqueiros – realizada dia 4 de março, domingo, que decidiu pela greve, a partir da meia-noite daquele dia. Bastaram 24 horas para começar a faltar combustível nos postos da Capital.
Pela segunda vez em pouco mais de uma década (a primeira foi em 1999), caminhoneiros autônomos decidiram fazer uma demonstração prática desta afirmação simples: sem caminhão, o Brasil para. Depois de 48 horas já havia um deus-nos-acuda na cidade, e então surgiu a mão forte do Poder Judiciário para obrigar a volta ao trabalho.
Gastão afirma que a prefeitura “enrolou” a categoria. O prefeito Gilberto Kassab (PSD) se reuniu com entidades de caminhoneiros uma única vez, dia 27 de dezembro. “Pedi a ele que adiasse a restrição por seis meses, um ano, para que discutíssemos com muito critério a questão da marginal”, ressalta. A intenção era cadastrar os caminhões que fazem a distribuição na Capital, para que pudessem continuar trabalhando.
Kassab não aceitou o adiamento e determinou que os sindicalistas se reunissem com a equipe técnica da CET. Em janeiro e fevereiro, segundo Gastão, houve seis encontros, “mas nenhum avanço”. As entidades quiseram voltar ao prefeito, mas ele não recebeu ninguém.
O presidente do Sinditanque não acredita que a imagem dos autônomos tenha sido prejudicada pela greve. “A mídia fez seu trabalho, mostrou imagens de caminhoneiros que estavam havia 12 horas trabalhando, sem descansar”, justifica.
Logo após o fim da greve, as entidades anunciaram que iriam fazer um movimento nacional contra a medida. “Se dissermos ‘vamos parar agora’, eles param”, garantiu Gastão. Mas não disse quando isso pode acontecer.