Vista como defeituosa de nascença, a carreta de três eixos distanciados tem suas virtudes descobertas e ainda ganha aprovação oficial da Sadia e da Volvo
Luciano Alves Pereira
A carreta Vanderleia está fazendo 30 anos. A centelha ‘relampeou’ em 1978, quando, no governo Geisel, foi baixado o Decreto 82.925, que permitia elevar o PBTC a 45 toneladas, sem alterar os limites por eixo. Uma estupidez, dizia-se na época. A configuração articulada mais comum então rodava sobre cinco eixos e tinha o teto legal de 40,5 t de PBTC. O remédio procurado foi o cavalo mecânico mal-identificado por LS (6×2), capaz de totalizar 47,5 t pela soma aritmética dos por-eixo, aproveitando melhor as 45 t legais.
Mas o ideal, visto por outros, seria não ter de trucar o cavalo. Só adequar o implemento, cuja única opção era distanciar os eixos da carreta. Assim surgiu a Vanderleia.
A Randon se aventurou nessa trilha com um projeto de 12,37 m de comprimento, três eixos a 2,40 m entre si, sendo o primeiro direcional e de suspensão a ar. Tinha 8.450 kg de tara. Isto foi no segundo semestre de 1982, conforme teste realizado pelo Jornal Veículo.
Depois a carreta Vanderleia ficou esquecida. Seus pontos fracos eram desalinhamento do eixo direcional, quebra do chassi na zona do dito cujo, desgaste exagerado de pneus e precária manobrabilidade. E hoje, o que mudou?
Segundo inúmeras fontes, os problemas são os mesmos. Mas seu ganho de produtividade, hoje, compensa. Até a Sadia adotou o polêmico implemento.
Para isso contou com o apoio da Volvo. A montadora de Curitiba interveio na linha de montagem para soltar um FH com entre-eixos mais curto, igual a apenas 3 metros. Mesmo na configuração 6×2.
Com a modificação, tornou possível o carregamento de mais dois pallets PBR, totalizando 30, numa Vanderleia frigorífica de 15,5 m de comprimento, o que pode representar cinco toneladas a mais, sem estouro do teto de 53 t de PBTC.
Camilo Martucheli, chefe de transporte da Nova Rota Transportes e Armazenagem, de Betim (MG), disse que a sua empresa já foi “provocada” pela Sadia a adquirir o equipamento.
Para ele, a CVC com eixos distanciados deverá levar a carga de forma mais bem distribuída. Mas ainda não tem pleno conhecimento do equipamento. “Sabemos que será mais caro (do que o conjunto clássico de seis eixos), terá maiores tara, consumo de combustível, de pneus e custo de manutenção.”
Pelo ângulo da Volvo, constata-se não se tratar de simples cortes de longarinas e eixo cardã. Cavalo mecânico extracurto vira um perigo saltitante e instável. Por isso, o fabricante adotou molas parabólicas ‘S’ no eixo de tração, combinadas com terceiro eixo de suspensão pneumática, além de barra estabilizadora e amortecedores nos dois eixos. Rogério Kowalski, gerente de grandes frotas da Volvo, estima fornecer 81 unidades para trabalhar para a Sadia.