Importadores acusam fabricantes locais de buscarem elevar preços; associação da indústria vê prática de dumping

Nelson Bortolin

Os importadores e a indústria nacional de pneus travam uma guerra entre eles. Em 22 de abril deste ano, a Associação Nacional da Indústria de Pneus (Anip) pediu à Câmara de Comércio Exterior (Camex) um aumento da alíquota do Imposto de Importação para pneus de 16% para 35%.

A Anip alega que há pneus chegando no Brasil, vindos da Ásia, com preço abaixo do custo de produção, o que caracterizaria prática de dumping. Segundo a entidade, o aumento da taxa de importação é necessário para interromper uma concorrência desleal.

Já a Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus (Abidip) deflagrou uma campanha para tentar evitar que o governo federal ceda ao pedido da Anip. Para essa segunda entidade, o que a indústria nacional está visando é um aumento geral do preço de pneu e elevação de suas próprias margens de lucro.

Os presidentes das duas associações gravaram vídeos apresentando seus pontos de vista. Veja abaixo.

Uma das alegações dos importadores é de que a Anip está entrando no “vácuo de recentes decisões protecionistas do governo, que beneficiam o setor de aço e químico, para emplacar aumento de tarifa sobre pneus importados”.

Na visão dos importadores, os fabricantes nacionais alegam um “surto de importações” de pneus asiáticos que estaria prejudicando a indústria brasileira. Mas sonegam a informação de que a própria indústria foi a “principal importadora nesses últimos anos para compensar sua incapacidade produtiva em solo brasileiro”, o que é negado pela Anip.

A Abidip sustenta ainda que a indústria nacional não comprova desequilíbrios comerciais ocasionados pela conjuntura econômica internacional. “O pleito carece de dados regionais do Mercosul e evolução de índice de preços, como o da borracha, por exemplo”, diz Ricardo Alípio, presidente da associação dos importadores.

De acordo com ele, atualmente já existem quatro regras de proteção à indústria nacional de pneumáticos em vigor. Duas para pneus de automóveis vindos da China, Coreia do Sul, Tailândia e Taipé Chinês e duas para pneus de carga vindos da China, Coreia do Sul, Japão, Rússia e Tailândia.

No vídeo divulgado pela Abidip, Alípio diz que a intenção da indústria nacional ao pedir o aumento da tributação dos importados é fazer com que os preços desses pneus subam no mercado. Assim, os preços dos produzidos no Brasil poderiam ser igualmente aumentados, melhorando a lucratividade da indústria local.

Passivo ambiental

Já a Anip alega que está buscando junto ao governo federal medidas emergenciais para conter o surto de importação desleal de pneus da China e de outros países da Ásia no mercado brasileiro. “Essa concorrência desleal está ameaçando empregos, coloca investimentos futuros em risco e traz desorganização da cadeia produtiva, afetando também produtores de borracha, de têxteis, de produtos químicos e de aço, insumos usados largamente na produção de pneus”, diz nota da entidade enviada à Revista Carga Pesada. 

“O aumento requisitado ao governo é de 16% para 35%, ou seja, 19 pontos percentuais sobre o valor da importação e não sobre o valor de venda do pneu no mercado. Esse aumento busca equilibrar os preços desleais das importações. No caso dos países asiáticos, todas abaixo do custo de fabricação”, diz a Anip.

A associação alega que os fabricantes nacionais participaram, em 2024, com apenas 2% das importações totais de pneus no Brasil. “Ou seja, quem afirma que a indústria nacional é uma grande importadora está totalmente desinformado. A indústria nacional importa apenas modelos que não são produzidos no Brasil, ou seja, uma minoria.”

A associação que representa a indústria nacional sustenta que não há falta de capacidade na produção de pneus no Brasil. “Somos o 7º país em produção de pneus. Hoje a indústria nacional conta com 21 unidades industriais de pneus espalhadas por 7 estados, e que nos últimos 10 anos investiu cerca R$ 11 bilhões, gerando 32 mil empregos diretos e mais de 500 mil indiretos, que estão em risco.”

A Anip ainda acrescenta um novo aspecto na discussão. “Quanto à questão ambiental, não precisamos ir longe. Os importadores aqui no Brasil possuem um passivo ambiental de 419 mil toneladas de pneus não destinados de forma correta. A indústria nacional de pneus atingiu e superou as metas de destinação ambientalmente correta de pneus inservíveis no Brasil, acumulando saldo positivo de 127 mil toneladas.”