Artigo publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo afirma que a categoria não precisa de piso mínimo de frete

Nelson Bortolin

O caminhoneiro ganha em média R$ 4,6 mil por mês, faz parte dos 8% de brasileiros mais bem remunerados e, portanto, não precisa de tabela de frete. Este é um dos argumentos utilizados pela advogada Tatiana Amar Kauffman, em artigo publicado em O Estado de S.Paulo, para defender o fim da tabela mínima de frete.

O texto, exclusivo para leitores do jornal, está disponível no site do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de Ribeirão Preto (Sindetrans).

O estudo da CNT aponta que o rendimento médio do autônomo é de R$ 5.011 e o do empregado, de R$ 3.270, o que leva a uma média de R$ 4.609. Para calcular a porcentagem da renda da população, a advogada utilizou um simulador do portal Nexo.

O texto causou revolta entre leitores do site da Revista Carga Pesada.

“Senhora advogada. Pelo conteúdo do seu artigo, nota-se que a senhora simplesmente intrometeu-se em assunto que não tem nenhum conhecimento. Procure informar-se sobre quanto custa um caminhão; quanto custam 22 pneus; quanto custa um litro de diesel; quanto se gasta de pedágios; quanto custa uma refeição nas estradas; quanto se paga por um banho de 6 minutos nos postos de combustível”, reclamou José Jorge de Jesus.

“Doutora, dá uma olhada na frota de autônomo. Está sucateada. Meu caminhão é de 1991 e dá manutenção diária. Nos ensine como sobram R$ 5 mil”, disse Roberto Martins.

“Essa doutora é formada por livros e não pela vida. Não tem conhecimento do que acontece nas estradas. Hoje pagamos tudo: para tomar banho, para estacionar, para descarregar. Não tem noção de quanto pagamos por cada pneu. É muito fácil fazer cálculos”, escreveu Márcio Jesus de Lima.

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A pesquisa da CNT diz que a renda mensal líquida do caminhoneiro já desconta os impostos, encargos sociais, combustível, aluguel, manutenção, etc.

Mas quem conhece a vida dos caminhoneiros sabe que não é bem assim.  “Às vezes, ele acha que está ganhando, mas não está. Na verdade, está tendo prejuízo”, afirma o engenheiro de transporte Lauro Valdivia, da RLV Consultoria.

Há uma série de itens que ele deveria considerar que, na verdade, não considera. Um deles é a remuneração do capital. “Se o motorista não tivesse aplicado capital no caminhão, esse dinheiro poderia estar rendendo no banco”, explica.

No caso da manutenção, o caminhoneiro não costuma fazer a conta correta. “A cada dia de trabalho, ele está gastando pneus e peças. São despesas que vai ter lá na frente que não está contabilizando adequadamente. Precisa calcular e separar um dinheiro para isso todo o mês”

Valdívia diz que o autônomo precisa ter um salário que justifique seu trabalho. “Tem de ser um valor maior do que recebe um caminhoneiro empregado. Não há justificativa para ser autônomo, investir capital e trabalhar mais, se não for para ganhar mais”, ressalta. Do contrário, vale a pena procurar emprego nas transportadoras.

Há outros itens a serem contabilizados, como os impostos e os mais básicos, como o diesel, a alimentação, o pedágio, que deveria ficar a cargo dos embarcadores, mas acaba na conta do caminhoneiro.

Outra coisa muito importante a se considerar é a depreciação. A cada dia, o caminhão vai perdendo valor e é preciso guardar dinheiro todo mês para trocá-lo no futuro.

Valdívia duvida que, após fazer todas as contas, um caminhoneiro tenha realmente R$ 5 mil de faturamento líquido. “Para isso, ele tem de trabalhar sol a sol, dirigir 18 horas por dia, todos os dias, se matar de trabalhar. E isso não é correto.”

Apesar das considerações, Valdívia não acredita que a tabela de frete seja a solução para os caminhoneiros.  “Há muito caminhão no mercado. Não tem carga suficiente para tanto caminhão. A única solução é a melhora da economia”, afirma.

Devido à estagnação econômica, segundo ele, os embarcadores também não conseguem vender seus produtos com os preços adequados. “Se vigorar uma tabela com fretes mais altos, eles vão acabar comprando caminhões para eles mesmos transportarem seus produtos.”