Quando qualquer caminhão supera os 100 mil quilômetros é que se fica sabendo se foi acometido pelas famosas doenças de primeira infância. Turbina estourada, compressor avariado, desgaste exagerado dos pneus, consumo que não bate com o prometido são algumas delas. Falta de peças de reposição também. O DAF passou bem por todas 

LUCIANO ALVES PEREIRA

Joani não tinha o que falar

Em 15 de maio a Anfavea (associação dos fabricantes de veículos automotores) completou 59 anos e em uma de suas cartas mensais (jan-dez/2014) de números da indústria, mostrou que a DAF licenciou 257 unidades no  primeiro ano de produção na fábrica de Ponta Grossa (PR). Já de janeiro a abril deste ano, foram 117. Superou a Ford (108), na classe dos extrapesados, no mesmo período. Pelo levantamento, a DAF sugere crescimento de vendas no fatídico ano petista de 2015. Corre o risco de ser a única marca a alcançar números positivos em relação ao ano passado, não importa a sua base de comparação de iniciante. Será o jeito citado por Zé Leutério (ver Carga Pesada, edição 170, pág.30), caminhoneiro de Córrego da Figuinha (MG)?

Não encontramos o Zé desde novembro de 2013, embora o estivéssemos procurando. Seria para ouvir-lhe os ecos do DAF nesse ano e meio, porque quem está no trecho sabe de tudo. Em compensação, topamos com Joani Matias Souza. Ele não é mineiro nem filho de.  Seu pai era de Itabaiana (SE), onde o caminhão é mais festejado do que santo padroeiro. Joani nasceu em Sorocaba (SP) e está com um DAF XF 105.460 6×2, desde novembro passado e acabou de fazer a revisão dos 100 mil quilômetros na concessionária Via Trucks, de Contagem (MG).

Seus tiros são curtos, mas a quilometragem mensal, alta.  Puxa bebidas paletizadas da AmBev entre Juatuba, na RMBH e Jundiaí, Jaguariúna ou Jacareí, todas em São Paulo. Seu giro semanal é de 3,5 viagens redondas. Cerca de 4 mil quilômetros no período. Como disse, sua carga líquida média é de 31 a 32 toneladas, sobre carreta vanderleia sider da Randon e conta com aerofólios no cavalo-mecânico. O consumo médio no ciclo oscila entre 2,3 e 2,5 km/litro, levando aproximadamente 10 horas, incluídos aí os tempos de paradas legais. Não há  retornos vazios.

QUEIXAS ZERO – Calculando bem grosseiramente, segundo a memória analógica de testes de caminhões da extinta Revista Veículo, o rendimento líquido do DAF alcança 73,69 t.km/litro. Há mais de 20 anos, o do importado Volvo FH 380 4×2 ficou em 63,54 t.km/litro. O gente boa Joani está com 61 anos de idade e quase 40 de volante. Tentando arrancar comparações com o conjunto que dirigia antes, ele preferiu “se abster”, já que deixou um Sinotruck para pegar o DAF zero km.  Sua transportadora é a Manotrans, também de Sorocaba, a qual adquiriu seis unidades da MacPonta, concessionária de Ponta Grossa.

Fica na estrada a melhor parada para a colheita de como é o jeito de um cargueiro. Ouve-se quem sabe das coisas. Longe do patrão e de outros ‘ouvidos interessados’. Geralmente surgem opiniões reais sobre o jeitão da máquina. Além do mais, notícia ruim se espalha como esferas de rolamento mal desmontado na bancada. Joani chegou a ser ‘suspeito de conivência’ ao “não ter nada de negativo para mencionar”. Cabine confortável/espaçosa, cama repousante, volante, freios, dirigibilidade, consumo, perfeitos.  Câmbio ZF automatizado idem. Ao ser pressionado para opinar em profundidade, ele confirmou todas as, digamos, notas altas do bruto. Para reforçar seus dizeres, lembrou a recentíssima revisão dos 100 mil quilômetros, ”sem qualquer reclamação ou cobrança”. Claro, o balanço exuberante dos primeiros ‘100 dias’ do DAF XF 105.460 está relacionado também com a maneira certa de Joani na condução do dito cujo. Não deu pra ter certeza, mas pode ser aquele “muito jeito”, mencionado por Zé Leutério, há um ano e meio, quando a DAF iniciou sua produção.