Por João Batista Dominici, presidente da Associação Brasileira de Logística Pesada (Logipesa)
Os recentes levantamentos revelam uma preocupante realidade das rodovias brasileiras. De acordo com dados do DNIT, 727 das 5.827 pontes sob sua gestão encontram-se em condições críticas ou ruins, sendo 130 classificadas como “críticas”. Além disso, 74,8% das rodovias públicas foram consideradas regulares, ruins ou péssimas, e foram identificados 2.446 pontos críticos, como buracos, erosões e quedas de barreiras. Essa infraestrutura deficitária se traduz em dados alarmantes de acidentes: um envolvendo caminhões é registrado a cada meia hora nas estradas federais, com quase 9 mil colisões no primeiro semestre de 2024.
O impacto das condições rodoviárias na logística
As condições críticas das rodovias afetam diretamente os custos logísticos, desde a manutenção dos veículos até o aumento no consumo de combustível. Os prazos de entrega também são prejudicados por desvios de rota, lentidão no tráfego e acidentes.
Apesar disso, muitos fabricantes de máquinas e equipamentos não pareFFFem considerar esses fatores ao definir suas estratégias logísticas. A contratação de frete muitas vezes se baseia exclusivamente no menor preço, ignorando as consequências de uma operação mal planejada ou realizada sem a devida atenção à segurança.
Possíveis explicações para a negligência
1. Foco excessivo no custo imediato:
Muitos embarcadores priorizam a redução de custos, considerando apenas o preço final do frete, sem avaliar os riscos e custos indiretos associados a acidentes, atrasos ou danos à carga.
2. Desconhecimento dos desafios logísticos:
Uma parcela significativa dos embarcadores não possui conhecimento detalhado das especificidades do transporte de cargas indivisíveis. A falta de entendimento sobre as restrições de infraestrutura, legislação e riscos operacionais contribui para a subestimação da importância de um planejamento logístico adequado.
3. Transferência de responsabilidade:
A legislação brasileira determina que o embarcador é responsável caso o peso declarado seja superior ao limite legal, quando ele é o único remetente da carga. Contudo, essa responsabilidade é muitas vezes negligenciada, com a expectativa de que os transportadores assumam os ônus e os riscos do transporte.
4. Falta de diálogo entre setores:
A pouca interação entre os setores de produção e logística nas empresas pode levar a uma desconexão na compreensão das demandas do transporte. Decisões sobre frete podem ser tomadas sem uma avaliação técnica adequada, resultando em escolhas pouco criteriosas.
A falta de atenção para esses problemas gera impactos negativos que se refletem em toda a cadeia produtiva. Operadores logísticos sobrecarregados, rodovias ainda mais degradadas e uma maior frequência de acidentes ampliam os custos para toda a sociedade. Além disso, a ineficiência no transporte pode comprometer a competitividade das empresas brasileiras em mercados globais.