Luciano Alves Pereira
Revista Carga Pesada
São escuras as cores do nosso 2014 rodoviário. Era esperado e mais do que sentido. Os líderes classistas do estado confirmam. Em entrevista a jornal da capital, estamparam retrato sem retoques. E as vendas bambas de caminhões carregam os tons.
Ao mesmo tempo, o apanhado explica aos autônomos a escassez de cargas e o desmilinguimento do valor do frete. Em número redondo, a caminhonice de Minas padeceu com o resfriamento da economia nacional. Houve queda de 10% na receita, conforme informou o Setcemg (sindicato das transportadoras do estado). Para Gladstone Viana, seu vice-presidente, “as empresas estão descapitalizadas, perderam a capacidade de investir na renovação da frota e, o pior, estão enfrentando dificuldades para o pagamento dos financiamentos de caminhões, adquiridos há dois anos ou três anos”.
Gladstone aponta empresas que “estão perdendo caminhões para aos bancos, enquanto estas mesmas não conseguem vender os veículos usados”. Na sua opinião, “cerca de 90% das transportadoras no estado estão descapitalizadas”. Diante disso, as perspectivas para 2015 “não são boas porque o ambiente ainda é de incertezas no país e no estado”.
As palavras de Gladstone não se esgotam nesse retrato instantâneo do mercado. Resgatam o que foi dito, em 2011, pelo seu colega de diretoria, Sérgio Pedrosa. Este era presidente da entidade e segue no seu segundo mandato. Em entrevista à Carga Pesada (edição 157), ele não escondia o temor pelos desdobramentos de agora. Dizia Pedrosa que a “a fartura de crédito é um forte estímulo à aquisição de caminhões. Hoje [2011] são comuns empresas com frotas próprias de 100, 200 unidades, o que era raro não faz muito tempo. Na hora em que a demanda [de frete]cair, o mercado saturado de caminhões deverá acender a guerra de oferta e procura, onde tudo é penosamente regulado”. Além de profetizar, será que ele não estaria diagnosticando uma bolha?
Em igual tom, Vander Costa, presidente da Fetcemg (federação das empresas de carga de MG), no mesmo jornal, confirmou os apertos das contas das sindicalizadas, acrescentando que “os bancos estão preferindo tomar o caminhão de quem está inadimplente antes de negociar a dívida. O setor passa por uma espécie de desinvestimento e a procura por novos caminhões em 2015 será menor ainda do que foi em 2014”. Alguém já soltou na mídia que a previsão seria de 130 mil unidades.
Por falar em vendas de cargueiros, relativas ao ano passado, a Anfavea (associação dos fabricantes nacionais) editou sua conhecida Carta mensal, com o fechamento de 2014. Em unidades acima de 6 toneladas de PBT, houve queda de 10,7% nos licenciamentos, na comparação com o ano anterior.
Ou seja, 133.088 veículos para carga (excluídos chassis de ônibus). Enquanto isso, aparecem outros mundos com trajetórias diferentes. O americano, por exemplo. Pelos levantamentos da WardsAuto local, o movimento de vendas medido apontou 2014 como “um ano muito bom para as vendas de caminhões”. As montadoras de lá negociaram 406.747 unidades nas classes 4 a 8 , equivalentes às capacidades ofertadas no Brasil. Ainda segundo a WardsAuto, houve incremento de negócios de 15,6% sobre 2013. O resultado foi “quase tão bom quanto os 544.581 caminhões comercializados no golden year de 2006”. A economia americana recupera-se e o seu ganho de giros pode beneficiar o nosso 2015 rodoviário. Vamos torcer.