Nelson Bortolin
Revista Carga Pesada
As tarifas de frete de grãos nas rotas que saem de Mato Grosso apresentaram importante recuperação em 2015, principalmente nos últimos meses do ano. E chegaram na primeira semana de 2016 com valores até 89% mais altos que no mesmo período do ano passado. Os cálculos foram feitos pela reportagem com base nos dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Todas as 16 rotas pesquisadas pela Carga Pesada, da mais curta a mais longa, apresentaram recuperação. Metade delas teve aumento de tarifa de mais de 50%.
A que menos cresceu entre a primeira semana de 2015 e a primeira semana de 2016 foi a de Sapezal a Porto Velho (942 quilômetros): apenas 9,5%. Os transportadores cobravam naquele trecho R$ 105 a tonelada transportada e agora cobram R$ 115. Já a de Campo Verde a Rondonópolis (137 quilômetros) foi a que mais sofreu aumento: 89% – de R$ 37 a R$ 70 a tonelada transportada.
Outra rota que se destaca é a de Campo Verde a Paranaguá (1.724 quilômetros). Ali, o frete subiu 81% entre um ano e outro – De R$ 135 para R$ 245 a tonelada transportada. Uma terceira que cresceu acima de 80%, mais precisamente 80,7%, foi a de Rondonópolis a Paranaguá (1.589 quilômetros). A tonelada transportada valia R$ 130 e agora vale R$ 235.
A correria para transportar o milho que ainda resta da safra 14/15, segundo o superintendente do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Carga de Maringá (Setcamar) e vice-presidente de Agronegócio da NTC&Logística, Geasi Oliveira de Souza, é o motivo da disparada do frete de grãos nos últimos meses. É preciso dar espaço para a soja que começa a ser colhida no Mato Grosso. “Aqui em Maringá não tem nenhum caminhão agora. Todo mundo subiu para puxar a safra do Mato Grosso”, afirma. Boa parte da frota nacional graneleira, de acordo com Souza, se dedica às safras de Mato Grosso e do Paraná. “Primeiro fazem lá e depois aqui”, explica.
Na Compager, transportadora de grãos localizada em Londrina, o frete subiu 25%, segundo o proprietário, Ítalo Lonni Junior. Mas não só devido ao aumento da demanda pelo serviço. “O preço do óleo diesel subiu demais, além do de outros insumos. O pedágio também é muito caro”, afirma. Ele reclama de o Paraná não estar respeitando a lei federal que concede isenção de pedágio para eixos suspensos de caminhões, quando vazios.
Outro motivo que justificaria o aumento do frete, na opinião de Lonni, é uma redução na oferta do transporte. “O setor está quebrado. Muitas empresas estão encostando seus veículos por falta de manutenção. No ano passado, entrou menos caminhão no mercado. A oferta de equipamento está menor”, afirma. A venda de caminhões caiu 47% no País de 2014 para 2015.
Para o diretor-executivo do Movimento Pró-Logística da Aprosoja, Edeon Vaz Ferreira, o valor do frete não assusta o produtor porque, em dólar, não houve aumento. “A tonelada transportada em janeiro do ano passado, de Sorriso a Santos, era 85 dólares. Agora, está a 80. O produtor não raciocina em reais”, afirma.
Ele considera que o aumento se justifica pela elevação dos custos do transporte rodoviário de carga, principalmente com diesel e pedágio. E não acredita que haja menor oferta de transporte. “Existem mais de 300 mil caminhões sobrando no País.” Por isso, Ferreira não acredita em disparada do frete no pico da safra. “E também porque a produção será menor devido à seca em Mato Grosso”, alega.