Abcam quer que governo retire os impostos do combustível usado pelos caminhoneiros e ameaça greve

Nelson Bortolin

Pelo menos cinco protestos de caminhoneiros autônomos contra a alta do preço do diesel foram realizados no País na segunda-feira (14). Em Minas Gerais, houve bloqueios na BR 040, perto de Conselheiro Lafaiete e na 381, em João Monlevade.  Em São Paulo, a manifestação foi na Raposo Tavares, no município de Angatuba. Em Londrina, no Paraná, um grupo fechou a BR 369, no trecho urbano. E também houve protesto no Porto de Salvador.

Desde que a nova política de preços da Petrobras foi implantada em julho do ano passado, o diesel comum subiu 19% na média nacional, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). O aumento do S10 foi de 17%.

No início da noite desta segunda-feira, quando a reportagem chegou ao local do protesto em Londrina, os bombeiros apagavam o fogo colocado em pneus por manifestantes para liberar a pista de BR 369. Embora tenha ocorrido diante da sede do Sindicam (Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos) de Londrina, o presidente da entidade, Carlos Roberto Dellarosa, nega que tenha responsabilidade pela manifestação. “Não concordo com esse tipo de manifestação com pneu queimado”, disse.

Dellarosa tem ido a Brasília participar de discussões com deputados a respeito da situação do caminhoneiro autônomo, que estaria sendo remunerado com valores abaixo do custo de sua atividade. Para ele, se o governo fiscalizasse a emissão dos conhecimentos eletrônicos de frete seria mais difícil ocorrer tal exploração. “Num frete de Londrina a Cuiabá você gasta R$ 3 mil de óleo diesel. Mas tem transportadora que coloca R$ 1 mil para pagar menos imposto”, conta.  Segundo ele, o Estado de Mato Grosso é o único que fiscaliza a emissão do documento. Ver entrevista no vídeo:

Já a Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) está pedindo ao governo federal que zere os impostos cobrados sobre  o óleo diesel usado pelos caminhoneiros autônomos. “Além da correção quase diária dos preços dos combustíveis realizada pela Petrobras, os tributos PIS/Cofins majorados em 2017, somando a isso a Cide, são o grande empecilho para manter o valor do frete em níveis satisfatórios”, escreveu o presidente da entidade José da Fonseca Lopes ao presidente Michel Temer nesta segunda-feira (14). De acordo com ele, 42% do preço do combustível é de impostos. Clique aqui para baixar o ofício da entidade.

Fonseca prometeu que a categoria irá fazer greve geral se nada for feito.. Apesar de propagar a greve, o presidente da entidade diz ser contrário ao fechamento de rodovias. “Vamos ficar todos em casa”, alega.

Para o presidente do Setcepar (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga), Marcos Battistella, a nova política de preços da Petrobras, que resulta em correções praticamente diárias nos preços dos combustíveis, está prejudicando todo o setor. “Fica difícil você negociar com os embarcadores (donos da carga). Deveriam deixar acumular 30 dias”, sugere. De acordo com ele, nem todas as empresas conseguem repassar os reajustes aos seus clientes. Ele admite que, no caso dos caminhoneiros autônomos, a situação é pior.

Em relação ao pedido da Abcam para desonerar os combustíveis, ele afirma que não acredita “em Papai Noel”. “O governo quer é aumentar os impostos, nunca baixar”, declara.

POSTOS

Do outro lado do balcão, o  diretor da Fecombustíveis (Federação Nacional dos Postos de Combustíveis) e da rede paranaense  de postos Túlio, Giancarlo Pasa, diz que os transportadores têm de se acostumar com a nova forma de a Petrobras reajustar preços.  “Depende da situação internacional. Essa é a nova realidade. Acontece no mundo todo. Só no Brasil não acontecia”, diz ele se referindo à paridade dos preços internacionais.

Para o empresário, é preciso “precificar o frete” diante da nova realidade. “Em vez de focar no governo, (os transportadores) deveriam focar nos embarcadores”, considera. “Essa situação é ruim num momento de alta dos preços como agora, mas favorável ao setor no momento da baixa”, complementa.

Mas o presidente do Setcepar não acredita nisso. “Quando o preço do petróleo sobe no mundo, aqui sobe também. Quando caem, aqui continuam elevados”, contesta Battistella.