Novo aumento do diesel causou revolta entre os motoristas; governo federal tenta conter o movimento

Nelson Bortolin

Um novo aumento de 4,4% no valor do diesel nas refinarias, anunciado no início da semana, foi o estopim para que grupos de caminhoneiros prometessem uma greve nacional na segunda-feira (1o de fevereiro). Como nas paralisações anteriores, nenhuma entidade encabeça o movimento, que se organiza por meio de grupos do WhatsApp.

A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) se posicionou contrária à greve, que desta vez ganhouo apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística, CNTTL, ligada à CUT.

Em nota do site, a CNTA diz que, apesar das dificuldades dos caminhoneiros, “este não é o momento ideal para uma paralisação, principalmente, em virtude da delicada realidade que o País está passando”. A entidade ressalta que a paralisação da categoria afeta a circulação de mercadorias, inclusive de produtos farmacêuticos, prejudicando o combate à pandemia do novo coronavírus. Além disso, afirma, que uma paralisação “pode acarretar aglomeração e aumentar o risco de contaminação dos caminhoneiros, familiares e da população em geral”.

Outro motivo apontado pela entidade é a proximidade da safra, que aumenta a demanda de trabalho da categoria e consequentemente o valor dos fretes.

A CNTA ainda considera que o atual governo federal tem mantido diálogo com a categoria e que a própria confederação “foi inserida em diversas discussões que possibilitaram uma abertura de diálogo inédita com apresentação de demandas específicas que beneficiarão o caminhoneiro autônomo.

A categoria foi uma das principais apoiadoras da eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018.
No site da CNTTL, o caminhoneiro autônomo, Carlos Alberto Litti Dahmer, do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Ijuí-RS, diz que categoria não suporta mais “tanta exploração e a insensibilidade do governo Bolsonaro e do Supremo Tribunal Federal (STF) referente à agenda de reivindicações que está parada há três anos (2018 a 2021)”.

Ele se refere ao não cumprimento dos pisos mínimos de frete e ao fato de o STF não pautar o julgamento da constitucionalidade da lei que os estabeleceu, a 13.703.“Lamentável o reajuste da tabela do piso mínimo de frete, realizada pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Tivemos um reajuste de 2,51%, que é ínfimo. Só para se ter ideia, o preço do pneu teve aumento nos últimos três meses de mais de 60%, seja nacional ou importado”, diz o líder.

“Até hoje não tivemos o julgamento do Piso pelo STF. Não podemos suportar essa situação. Hoje temos um piso mínimo da fome. Para nós, inconstitucional é a fome e a exploração. Vamos dar um basta nisso. Vamos cruzar os braços no dia 1º de fevereiro”, complementa Litti.

À Revista Carga Pesada, ele disse que sua não está convocando a greve, mas que apoia o movimento. “Como caminhoneiro autônomo, vou estar com meu caminhão no trevo na segunda. Ninguém pode me obrigar a trabalhar pelo custo.”

Nesta quarta-feira (28), o presidente Jair Bolsonaro fez um apelo para que os caminhoneiros não parem. Em 2018, quando era candidato, ele apoiou a greve da categoria. Bolsonaro diz que a Petrobras não tem como segurar os preços dos combustíveis, que são formados no mercado internacional. Mas prometeu cortar impostos que incidem sobre o diesel.