Nelson Bortolin
Se a Prefeitura de São Paulo não chamar as entidades representativas do transporte rodoviário de carga para rediscutir as restrições aos caminhões, o Sindicato dos Autônomos (Sindicam-SP) promete realizar um movimento nacional de paralisação das operações de transporte que passam pela Capital. A informação é do presidente da entidade, Norival Almeida da Silva.
A distribuição de combustível em São Paulo começou a ser retomada ontem, após liminar concedida pela Justiça que impunha multa de R$ 1 milhão ao Sindicam caso a paralisação iniciada na segunda-feira continuasse. Em entrevista à Carga Pesada, Norival avaliou o movimento e adiantou que a categoria não pretende cruzar os braços diante das restrições ao tráfego de caminhões na marginal e nos municípios da Grande São Paulo. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
– Como você avalia o movimento dos últimos três dias?
Nós iniciamos essa paralisação com a estratégia de que duraria apenas três dias. Nossa intenção era mostrar para a sociedade que não temos como trabalhar diante das restrições. Sabemos que o mercado de combustível trabalha com estoques da mão pra a boca e que esse período já seria suficiente para mostrarmos nossa indignação. Não esperávamos que em três saísse uma liminar estabelecendo essa multa de R$ 1 milhão.
Retomamos as atividades com a escolta que pedimos a polícia. Sabemos que existem interesses de outros setores em tumultuar o processo e temos de proteger o caminhoneiro, o veículo e a carga. E a polícia tem nos ajudado.
– Diante da cobertura da imprensa que em algumas situações colocou o autônomo como baderneiro, você imagina que o movimento surtiu efeito no sentindo de chamar a atenção para o problema ou a imagem da categoria saiu arranhada?
Se fosse para escolher o ontem e o hoje, eu acho que estamos melhor hoje. Recebemos críticas, mas muitas mensagens de apoio. Quem nos criticou não entende as necessidades do transporte. Tivemos boas reportagens e outras sensacionalistas. O Datena (apresentador da BAND que chamou a categoria de baderneira) será Jesus Cristo na próxima encarnação. Ele sabe tudo, critica tudo. Mas eu diria que o resultado de forma geral foi positivo.
– O que será feito agora?
O Kassab (Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo) disse que, se a paralisação terminasse, iria chamar para negociação. Vamos aguardar. Mas se nada for feito, vamos estado por estado chamar os caminhoneiros para um movimento contra o abastecimento do centro de São Paulo. Vamos parar as operações de transferência que passam pela capital e também a distribuição na cidade. Já que a metrópole não quer caminhão, então que fique sem caminhão.
O problema da restrição vai aumentar porque, no mês que vem, começam as multas para os caminhões que transitarem nas principais vias do ABC e de Osasco. É muito complicado porque os técnicos das prefeituras não entendem nada de transporte, nem sabem o que é um autônomo, um agregado, não sabem nada.
– Quais as alternativas que existem para quem não pode usar a Marginal nos horários de restrição (das 5 horas da manhã às 9 horas e das 17 horas às 22 horas)?
Se você sai da Dutra com a Marginal Tietê e tem de ir ao Cebolão, no começo da Castelo Branco, é um percurso de 30 quilômetros pela marginal sem restrição. Com restrição, temos de passar pela Ayrton Senna, pegar a Avenida Jacu Pêssego, que tem uns trezentos faróis, depois chegar no Rodoanel em Mauá, passar para a Anchieta, a Imigrantes, a Régis Bittencourt, a Raposo Tavares e só então chegar a Castelo Branco. São 143 quilômetros.
– Se o Rodoanel estivesse pronto, o problema estaria resolvido?
Se estivesse pronto eu não contestava, pois nós temos que entender que o trânsito de São Paulo não é fácil. O Rodoanel tiraria a carga pesada da Marginal. Só a Dutra entrega para a Marginal Tietê 1.400 caminhões por hora.