Associação também diz que transportador não deve esperar redução de custo de aquisição no novo implemento

Nelson Bortolin

Nem todo tipo de transporte vai poder se utilizar da carreta de 4 eixos, recentemente aprovada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), por meio da resolução 882. Este é o entendimento da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir). “É uma coisa nova e está todo mundo procurando por ela. Pode haver um efeito manada”, afirma o presidente da entidade, José Carlos Spricigo, que também é CEO da implementadora Librelato.

José Carlos Spricigo, presidente da Anfir

Um das operações de transporte que, provavelmente, não deverão migrar para a 4 eixos é a feita por meio de carretas basculantes. Isso porque, para aproveitar o Peso Bruto Total da Combinação (PBTC) de 58,5 toneladas, o veículo precisa ter um comprimento total entre 17,5 metros e 18,6 metros. “É uma carreta muito grande para bascular. O risco de tombamento é significativo”, alega.

Na opinião de Spricigo, o bitrem de 7 eixos, deve voltar com força para o segmento de basculantes, uma vez que a resolução 882 também permite que essa configuração, assim como as carretas de 4 eixos, rodem com cavalo 6×2, não mais obrigatoriamente 6×4. Esse fato deve tornar o veículo mais barato.

Segundo o presidente da Anfir, a 4 eixos tende a ganhar espaço no mercado porque levará mais carga que o bitrem, cujo PBTC é de 57 toneladas, e é formada por apenas um implemento. Mas o transportador não deve esperar economizar muito na aquisição dessa carreta. Isso porque o quarto eixo tem de ser necessariamente autodirecional e pneumático, que custa três vezes mais que um eixo mecânico.

Além disso, por exigência legal, pelo fato de ter seu Certificado de Adequação a Legislação de Trânsito (CAT) liberado a partir de 2022 vai necessitar de freio EBS, cuja tecnologia tem custo maior que o ABS que poderá ser mantido no bitrem. “Acho que o preço entre os dois veículos deve ser equivalente ou no máximo 10% mais em conta no caso da 4 eixos na comparação com o bitrem.”

Nenhuma das carretas que já estão rodando no País foi fabricada por implementadora, mas feitas a partir de carretas LS ou Vanderleias, com a inclusão de um quarto eixo em oficinas independentes. As implementadoras aguardam a emissão do CAT da nova configuração para poder começar a produzi-la. “Acredito que isso deve acontecer em março ou abril”, diz Spricigo.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) preferiu não se posicionar por enquanto quanto à resolução 882. “O tema é complexo e já está em debate no governo há algum tempo. A Anfavea aguarda o envio dos testes que fundamentaram a decisão do Contran para se posicionar”, disse a entidade por meio da assessoria de imprensa.

A publicação da resolução 882, no final do ano passado, pegou muita gente de surpresa. A carreta de 4 eixos e a volta do caminhão trator 6×2 para os bitrens enfrenta críticas de especialistas que consideram as mudanças prejudiciais ao pavimento.
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Camilo Adas

A SAE Brasil, associação formada por profissionais ligados à indústria automotiva, não vê razão nas críticas. “Não tenho nenhum motivo técnico para dizer que (as novidades) vão trazer problemas”, afirma o presidente da entidade, Camilo Adas. “Os estudos feitos pelo observatório são bem completos, bem analíticos. A SAE confia muito no trabalho deles”, afirma. Ele se refere Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), designado pelo Ministério da Infraestrutura para estudar a carreta 4 eixos.