Emily Maia trabalha na transportadora Isa’s, empresa paulista que dá oportunidade para motoristas mulheres
Leiliani de Castro
Com mais de 500 mil seguidores no Instagram, Emily Maia compartilha sua rotina dirigindo um Scania R450 por todo o Brasil. A jovem carreteira, filha de caminhoneiro, viaja com o pai desde criança. Junto a ele, já esteve pelo Brasil e por outros países da América Latina. Ela se recorda de ter visto a neve, pela primeira vez, ainda muito jovem, com cinco anos, quando o pai ainda trabalhava na TransRebeca pelo Mercosul afora.
Em entrevista à Revista Carga Pesada, a carreteira de Sorocaba (SP) relatou que o pai a ensinou muito na teoria, e certa vez, também na prática: “Um dia, numa viagem que fiz com ele, disse “tô com vontade de dirigir”. E ele falou “tá bom”. Aí a gente tava num posto que era bem grande, e não tinha muito caminhão, e ele deixou eu dirigir”, relata a caminhoneira sobre sua primeira experiência na boleia de uma carreta.
A partir de sua vivência na Isa’s e da interação com os seguidores nas redes sociais, a motorista influencia muitas outras mulheres, que a procuram para saber mais detalhes da profissão e desabafar sobre suas inseguranças e medos.
“Muitas vêm me pedir conselho: como é que você se vira para ir ao banheiro, nos postos? Eu sempre aconselho a não ter medo de perguntar, de pôr a cara. Porque o medo acaba atrapalhando, querendo ou não. Então é o conselho que eu sempre dou para as meninas, que têm medo de se perder, né. Por exemplo, o GPS. Acontece muito do GPS jogar a gente em rua sem saída ou em rua que não tem como passar caminhão. Isso acontece, infelizmente acontece. Mas na hora você vai saber o que fazer.”
O primeiro emprego como carreteira
O nome da transportadora paulista para a qual Emily Maia trabalha já carrega duas mulheres em seu DNA: Isabelle e Isadora, filhas de Renato Oliveira, diretor da empresa. A Isa’s Transportes abriu suas portas no auge da pandemia, em setembro de 2020, no segmento do e-commerce, aproveitando a expansão desse nicho de mercado. De 2022 para 2023, cresceram 674% e atualmente possuem 100 caminhões de frota própria, além de 50 autônomos agregados.
Segundo a diretora financeira Raiély Martins, dentre o seu quadro de funcionários, as mulheres compõem “10% da nossa frota e 30% na parte administrativa. Com esses números, podemos perceber que é um mundo, ainda, muito masculinizado, né. Estamos tentando, diariamente, aumentar essa porcentagem”.
Renato Oliveira conta que Emily foi uma das primeiras motoristas carreteiras a ingressar. Para ele, “mulher tem que estar onde ela quer, porque ela é capaz. Mulher é poderosa, mulher é merecedora de todas as conquistas diárias. Eu sou pai de duas meninas maravilhosas e quero que elas cresçam com isso no peito”. Esta contratação veio após vários “não”, pois as empresas costumam demandar experiência no currículo.
Emily comenta sobre esta oportunidade: “Assim, quando falaram que era pra mim ir fazer o teste, eu fiquei uns cinco minutos travada, porque eu levei muito ‘não’, muito ‘não’ mesmo! No mesmo dia eu já fui, fiz o teste, e graças a Deus passei, e me deram oportunidade, mesmo eu não tendo experiência na carteira, então eles confiaram em mim me dando um caminhão, mesmo sem me conhecer, sem saber de nada de mim, o pouco que sabiam é que eu já tinha viajado com o meu pai, tinha uma noção de dirigir e tal, mas eles confiaram em mim mesmo me conhecendo pouco, e isso é gratificante demais”, conta a motorista emocionada.
Integração à equipe
Quando Emily ingressou na transportadora, passou “por um treinamento de três dias onde a gente frisa o cuidado com o caminhão, cumprimento dos horários, rastreamento, o mínimo de direção defensiva, o mínimo de noção de um caminhão, para se acontecer algum problema em beira de pista, ela saber o que fazer”, de acordo com o diretor executivo da Isa’s.
Segundo a gestora financeira, Raiély Martins, “as meninas aqui sempre têm um privilégio. Todas as vezes que a gente acaba chegando com a frota nova, com um caminhão um ano mais novo, sempre vamos priorizando as mulheres”.
Conforme são contratadas, as caminhoneiras que chegam sem a experiência, fazem dupla com uma de suas veteranas durante um período, aprendendo sobre o cotidiano, dia a dia de carregamento e de pista também.
Até a metade de 2024, a transportadora deve expandir o seu treinamento. O CEO da transportadora manda um recado para todas as motoristas carreteiras e de truck interessadas: “até o meio do ano, no máximo, a gente deve abrir uma escola Isa’s, onde treinaremos, neste primeiro momento as mulheres, para que elas se tornem profissionais, e daremos oportunidades. Então mesmo aquelas que não se sentem ainda preparadas, venham, nós colocaremos nas duplas com as nossas meninas que já estão preparadas.”