É preciso uma discussão urgente e articulada sobre como produzir e não destruir o planeta

Quis o destino que na mesma semana em que acontecia o maior evento do agronegócio da América Latina, a Agrishow em Ribeirão Preto (SP), o Rio Grande do Sul tivesse nada menos que 70% dos seus municípios atingidos por enchentes que causaram mais de 150 mortes, além de quase uma centena de desaparecidos e milhares de desabrigados.

A tradicional feira foi um sucesso com mais de R$ 13 bilhões em negócios, 195 mil visitantes e a exposição de novas tecnologias e da pujança do agro. Mas é inevitável que a coincidência dos dois eventos nos leve a uma reflexão: o modelo de ocupação e exploração de terras no Brasil pode ser considerado sustentável?

As imagens e as informações veiculadas desde o dia 29 de abril, quando o primeiro alerta vermelho de enchente foi lançado, nos cobram uma resposta urgente e isenta a essa pergunta.

Dados produzidos pela organização MapBiomas mostram que, entre 1985 e 2022, o Rio Grande do Sul perdeu aproximadamente 32% de toda cobertura vegetal original formada por florestas, campos, áreas pantanosas e outras formas de vegetação nativa.

Ao mesmo tempo em que isso acontecia houve, por exemplo, um aumento vertiginoso de 366% de lavouras de soja, além da silvicultura e da área urbanizada do estado.

Cientistas e pesquisadores acreditam que a perda de cobertura vegetal original pode ter contribuído decisivamente para as dimensões catastróficas das inundações. Construções em áreas de alagamento e falta de manutenção em diques de contenção e barreiras anti-alagamento também contribuíram.

Para completar o quadro, o governo de Eduardo Leite alterou e flexibilizou 480 normas ambientais desde que assumiu o comando do estado pela primeira vez em 2019.

É preciso uma discussão urgente e articulada sobre estes temas já que estamos correndo contra o tempo. A própria Agrishow reconhece a urgência das ações de sustentabilidade quando abre espaço para a agricultura familiar, equipamentos movidos a combustíveis alternativos e eletromobilidade como mostram outras reportagens desta edição.

Nosso papel é cobrar que isso aconteça.

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