Esta capixaba é a única mulher no serviço de transporte de contêineres no porto de Vila Velha
NELSON BORTOLIN
Começou por necessidade de ajudar o marido no sustento da família. Mas, aos poucos, Anailê Santos Goulart, de 27 anos, apaixonou-se pela boleia. Com 1,56 m de altura, provou que tamanho não é documento e tornou-se a única mulher entre os 174 membros da Associação dos Carreteiros Autônomos do Porto de Vila Velha, no Espírito Santo.
Por ter um Scania 1973, virou a Anailê do Jacaré, como assina em seu vlog (um ‘video blog’) no Youtube. Anailê trabalha com contêineres, rodando trechos curtos, de até nove quilômetros. Casada com Lucius, também motorista de um Jacaré, ela tem dois filhos, Eduardo, de 6 anos, e Ian, de 2, e carrega o terceiro numa barriga de seis meses. “Quando foi do Ian, dirigi até 15 dias antes do parto”, conta. “Não é por coragem, é que a gente não tem escolha”, afirma.
Seu marido é carreteiro há 10 anos, mas ela só foi para a boleia há três. “Eu já tinha habilitação e ia trocando de categoria junto com meu marido, mas no início só o acompanhava ao porto e às vezes puxava o caminhão na fila. Até que compramos outro caminhão.”
Mas a vida anda difícil, explica Anailê. Casada, com dois filhos e o terceiro na barriga, Anailê ama dirigir caminhão: “Não me vejo fazendo outra coisa”. “A gente chegava a fazer sete viagens no dia. Hoje, faz uma”, afirma.
Como o porto funciona 24 horas, o casal trabalha de dia e de noite, depende da escala da associação. Mesmo assim, ela se sente realizada: “Eu amo dirigir caminhão, não me vejo fazendo outra coisa.”
VLOG
A criação do vlog “Anailê e Lucius do Jacaré”, que tem mais de 65 mil inscritos, nasceu de uma entrevista que Anailê deu a um jornal, e que foi publicada na internet. “Um homem fez um comentário duvidando que eu realmente dirigia o Jacaré. Então gravei um vídeo e coloquei no Youtube”, recorda.
Logo o vídeo se espalhou e ela foi atrás de ter seu próprio canal. O vlog é hoje uma espécie de diário da reforma do Jacaré, que estava precisando de melhorias – chegou a chover dentro do veículo. Ele também vai mudar de cor, do alaranjado para um rosa feminino.
A mão de obra já custou mais de R$ 10 mil. E o canal do Youtube, embora dê pouco dinheiro (R$ 300 a R$ 400 por mês), tem sido muito importante para Anailê encontrar parcerias. “A gente ganha peças e divulga a marca”, explica. Para quem dirige com uma almofada às costas para poder alcançar o pedal da embreagem, a reforma do caminhão é um grande passo.