Nelson Bortolin
Revista Carga Pesada
Se quiser descarregar na ArcelorMittal, em João Monlevade (MG), o caminhoneiro precisa fazer curso e prova escrita a cada 90 dias. Quando soube da exigência, Wellington Forte, de Contagem (MG), ficou irritado. “A prova é ridícula, perguntam qual é o número do telefone de emergência, sendo que o número está ali do lado”, critica. Mas não é a prova que tira Forte do sério. “O pior é ter de retornar com um caminhão carregado uns três ou quatro quilômetros para fazer o curso em um posto de combustíveis. A gente perde um tempão.”
Forte reclamou por e-mail com a ArcelorMittal. “Perguntei por que não deixavam alguém na porta da empresa para aplicar a prova. Responderam que isso representava mais custo para eles. Respondi que voltar à cidade com caminhão carregado representa custos para o caminhoneiro. Disseram que era uma decisão da empresa”, conta.
Ele diz que gosta das coisas bem combinadas, e não se arrepende de agir assim. É uma questão de respeito. “Fui carregar um equipamento em Morro Alto (MG). O embarcador exigiu minha chegada às 7h30. Às 7 horas, eu já estava lá, mas ele só chegou depois das 9. Reclamei e ele se achou no direito de dizer que, ‘pelo sindicato’, o motorista é obrigado a esperar até cinco horas. Entrei no caminhão e deixei a carga para trás. Quando ele viu que eu estava indo embora, me telefonou para dizer que pagaria as horas que fiquei esperando. Mas eu não voltei. O que é combinado não é caro. As pessoas deveriam dar mais atenção ao motorista e vê-lo como parceiro e não como escravo”, são as palavras de Forte.
Outro que não deixa de reclamar é o gaúcho Fábio Luís Roque. Se for necessário, ele também apresenta sugestões. Fábio não se conforma com o tempo de espera para descarregar nos terminais do Complexo Termasa/Tergrasa, no Porto de Rio Grande (RS). Diz que ali o grande gargalo é na amostragem dos grãos. “Iria agilizar muito a descarga se a amostra fosse tirada no pátio de triagem, pois o caminhão muitas vezes chega cinco horas antes do horário agendado”, afirma.
Para evitar o risco de fraude após a retirada da amostra no pátio de triagem, ele afirma que um simples lacre resolveria o problema. Roque mandou um longo e-mail para os terminais com sua sugestão. Disse que diminui o risco de queda do motorista na hora de retirar a lona, pois ele poderá fazer isso com calma, no pátio, e calculou o ganho de tempo. “O porto descarrega 500 caminhões por dia e perde 5 minutos com cada na amostra. No total, são 2.500 minutos, ou seja, mais de 41 horas.” Na hora da amostragem, no sistema atual, chega a haver filas de até 70 caminhões, de acordo com ele.
Fábio afirma que sua sugestão pouparia tempo do motorista, evitaria longas filas no terminal e poderia evitar o pagamento de estadia. “Se hoje o caminhoneiro faz sete viagens ao mês para o porto, ele poderia fazer dez”, estima.
Questionado pela Carga Pesada, o gerente de Controle da Qualidade e Meio Ambiente do Complexo, Marcelo Weyer das Neves, disse que a empresa está investindo para agilizar o processo. “O setor de amostra, que inicialmente contava com dois pontos, foi ampliado para quatro pontos. Existe um projeto para agilizar ainda mais este setor, mas destacamos que nossa movimentação atual gira em torno de 1.200 caminhões por dia”, afirma. O gerente não fez nenhuma consideração sobre a proposta de Fábio. Disse apenas que agradece a iniciativa de “apresentar suas ideias, que são bem-vindas”.
Já a ArcelorMittal enviou uma nota à Carga Pesada dizendo que “preza pela segurança de seus empregados e de todos aqueles que trabalham com a empresa” e que em todas as suas unidades “os caminhoneiros precisam estar em dia com o treinamento de segurança para ter sua entrada autorizada na usina”. Segundo a nota, a prova citada pelo caminhoneiro Wellington Forte é um curso básico de segurança, seguido de teste. “O treinamento é feito enquanto o caminhoneiro aguarda a liberação para ir à usina fazer o carregamento ou a descarga do material que transporta. Ou seja, não há perda de tempo. A espera para a entrada na usina depende da programação da expedição do produto ou do descarregamento de matérias-primas”, diz a nota.
“Se precisar ir ao banheiro, tem de pedir na lanchonete ou em alguma loja. E nem todo lugar tem onde a gente comer. Quando não tem, a gente espera com fome para comer depois de descarregar”, diz o caminhoneiro empregado Valmir da Silva Gomes, de Bauru. No dia 11 de maio, quando a Carga Pesada o entrevistou, ele esperava havia mais de três horas para carregar na Nestlé de Marília. “Geralmente, nas grandes redes, ficamos muitas horas esperando.”