“No Brasil, não temos informações para tomar nenhuma decisão com base. Por isso, muitas soluções são erradas.” Palavras do engenheiro e consultor em transporte Luiz Célio Bottura, que foi presidente da estatal paulista Desenvolvimento Rodoviário (Dersa), de 1984 a 1987.
Ele defende prioridade-1 para as cargas nos deslocamentos na cidade. “Depois, por ordem de importância, vêm o transporte coletivo e os individuais – bicicleta, moto, patinete, skate. E só então o particular (carro).”
Bottura também já trabalhou na Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo. Ele critica o fato de as restrições aos caminhões terem sido implantadas sem se pensar em vias alternativas. “Na hora da liberação, os caminhões saem num comboio, atropelando os veículos pequenos. É um estouro de boiada”, afirma.
Ninguém sabe quantos caminhões passam por São Paulo, por que passam por São Paulo, o que carregam, qual a origem e o destino, lembra Bottura. Quando ele esteve na Dersa, mandou fazer essa pesquisa nas balanças de rodovias. Mas, depois, isso acabou.
O engenheiro conta que já naquela época propôs a implantação de estacionamentos, para dar conforto ao motorista e melhorar a logística. “Uma grande estrutura onde o caminhão descarrega e a carga é distribuída em veículos menores, como ocorre nos Estados Unidos e na Europa.” Seriam locais explorados pela iniciativa privada. “Por incrível que pareça, os investidores não entenderam que um local destes gera dinheiro.”
Bottura acredita que o maior problema viário no Brasil não são as pistas, mas os entroncamentos. “Onde a Marginal do Tietê entronca com a ponte da Vila Maria, por exemplo, é um trecho muito curto.”
Há problemas assim em todas as grandes rodovias. É uma questão técnica. “Não dá para admitir que você tenha uma estrada com velocidade de 100, 120 por hora e, quando tem de entrar em outra via também de grande porte, o motorista tenha de reduzir a velocidade a menos da metade”, destaca. De acordo com ele, isso é sinal de que quiseram “economizar dinheiro” no projeto.
O engenheiro distribui críticas pela situação também aos transportadores. “São comodistas. Ficam esperando que o governo faça as coisas. Parece que trabalham com o rabo enroscado, não têm coragem. Não querem ser ativos ou, se são ativos, agem de forma amadora”, ressalta.