Maior revendedor de diesel do País, Aldo Locatelli protesta contra tantas leis que prejudicam a liberdade de escolha das pessoas, como a que proibiu a carta-frete e a que regulamenta a profissão de motorista

Com nove postos de estrada, o mato-grossense Aldo Locatelli é o maior revendedor de diesel do País: mais de 27 milhões de litros por mês – média de três milhões por posto. Há 43 anos no ramo, ele se diz amigo dos caminhoneiros. “Pode haver algum que fale mal da gente, mas ganho presentes dos motoristas todos os dias”, afirma.

Conhecido por falar abertamente o que pensa, ele critica a resolução da ANTT que proibiu a carta-frete e obriga o pagamento de caminhoneiros autônomos apenas por depósito bancário ou via cartões de administradoras autorizadas.

Também dispara contra a lei 12.619, que definiu o tempo de descanso obrigatório do motorista. “O motorista quer trabalhar mais para ganhar mais e não pode. Isso é uma inversão de valores. O Estado está interferindo demais na vida do brasileiro.” Confira as opiniões que o empresário expressou em entrevista à Carga Pesada:

OPERAR COM CARTÃO É CARO

Na opinião de Locatelli, “é inviável” vender diesel com cartão no Brasil. “As administradoras cobram taxas de 2,5% a 3% das empresas. Para o consumidor, isso vai representar 6 centavos a mais por litro. É muito.” O único cartão que seus postos aceitam é o Repom, parceiro antigo que cobra só 0,5%.

Ele acha que não perde clientes por causa disso. “Sou o maior vendedor de diesel do Brasil. Dos meus nove postos, cinco ou seis estão entre os 30 maiores do País. Não me preocupo.” Em seus postos, existem carros disponíveis para o cliente ir sacar dinheiro no banco, caso ele só tenha cartão para pagar pelo combustível.

Os postos de Locatelli só aceitam cartão Repom: a taxa dos outros é alta demais

Quanto à carta-frete, agora proibida, o empresário diz que nunca cobrou mais que o preço à vista para trocar carta-frete em sua rede. Admite, no entanto, que existem postos que exploram os motoristas. “Existem postos desonestos, assim como existem caminhoneiros desonestos…” Mas, para Locatelli, a ANTT se apegou “ao detalhe de alguns donos de postos que cobravam mais”, e escolheu o remédio errado.

Locatelli considera injusto o Estado determinar a forma de pagamento de fretes dos motoristas. “Qualquer um pode receber pelo seu trabalho em cheque ou duplicata, mas o motorista não pode”, reclama.

Segundo o empresário, o novo sistema só é bom para bancos e administradoras de cartões. “O governo pegou R$ 70 bilhões (valor estimado dos fretes por ano no País) e deu para os bancos”, ressalta.

O CAMINHONEIRO É UM AMIGO

O empresário, que está há 43 anos no ramo, se considera “um amigo” do caminhoneiro. “Eu falo a linguagem do motorista. Todo dia ganho um vinho ou outro presente de algum cliente”, declara. Ele diz que costuma ir “até a casa” dos clientes. “Eu vou a Garibaldi, no Rio Grande do Sul, vou a Astorga, no Paraná, vou a Santa Catarina. Converso com o caminhoneiro de igual para igual.” Em seus nove postos, na terceira quarta-feira do mês tem churrasco de graça para os clientes nos nove postos.

TER POSTO RENDE POUCO

Aldo Locatelli diz que a revenda de combustíveis deixou de ser o bom negócio de antigamente. “Ganhamos cada vez menos.” A margem de lucro anda entre 7% e 8%, segundo ele. Mas não se queixa do volume de vendas.

Vista do Posto Locatelli de Cuiabá: o dono é sua própria bandeira

O empresário explica que sua opção pela bandeira branca permite vender diesel mais barato. “Só compro da Shell, Petrobrás, Ipiranga, mas se tiver a bandeira deles, vão me cobrar alguns centavos mais caro. Eu economizo esses centavos e repasso para o cliente”, afirma.

Quanto ao novo diesel, o S50, menos poluente, Locatelli o considera “uma revolução”. “O problema é que está muito caro”, acrescenta, embora diga que já vem conseguindo comprar “por um bom preço”. “Já tenho o S50 em Cubatão, Curitiba e Paranaguá. Em Mato Grosso, só tenho em alguns postos. Estou colocando em Rondonópolis”, explica.

LEI DO DESCANSO É EXAGERO

Sobre a lei 12.619, que obriga o motorista a parar meia hora a cada quatro horas ao volante e a descansar 11 horas entre dois dias, ele se mostra radicalmente contra. “O Estado está exagerando ao determinar quanto tempo o caminhoneiro pode trabalhar”, diz.

Locatelli defende “a educação” para prevenir acidentes e fala coisas do tipo: “Só porque alguns matam com facas, deveríamos proibir a fabricação de facas?”; ou “vão ter de proibir a venda de caminhões, pois são os caminhões que matam”.

Para ele, “se o motorista bebe, mas dirige certinho, não há problema algum. Mas se cometer um ilícito, prisão para ele”.

O empresário acha que, com essa lei, os honestos e conscientes, que sabem dosar as energias, são penalizados. “O honesto quer trabalhar mais e ganhar mais, mas não pode. Eu sou motorista, comprei caminhão, paguei certinho e sou obrigado a dirigir no máximo oito horas? Não é justo. Por que não proíbem os automóveis?”

Apesar de ser contrário à regulamentação, ele está preparado para ampliar sua área de estacionamento em Cuiabá, para oferecer descanso. “Tenho o equivalente a seis campos de futebol comprados para colocar caminhão”, afirma. E calcula que, para o negócio ser rentável, terá de cobrar cerca de R$ 50 de pernoite. É mais do que ele diz que ganha, em média, por veículo abastecido: R$ 30.

Você é o repórter

Abimael Teodósio da Silva (Bauru-SP), Alailson dos Santos Machado (Serra-ES) e Samuel Lins Rodrigues (Londrina-PR) – Por que o diesel é tão caro no Brasil?
Primeiro, por excesso de impostos. Alguns são o ICMS, de 17% em Mato Grosso, 12% em São Paulo, por exemplo, os royalties que são pagos a alguns Estados, e a CIDE, contribuição arrecadada pelo governo federal e que neste momento está suspensa. Sem impostos, o diesel ficaria em R$ 1,20 a R$ 1,30. O transporte também é caro, tanto faz que seja de caminhão, de trem ou pelo duto que fizeram de Goiás para Mato Grosso, é tudo parecido. E há o problema do monopólio da Petrobrás. Ela põe o preço que quer, age como quer. O desperdício é grande. A Petrobrás é uma caixa preta.

Agnaldo Gonçalves (Araucária-PR) (foto ao lado) – O sr. tem planos de abrir ou adquirir novos postos? O que acha de abrir postos onde os motoristas têm mais carência?
Temos planos para implantar postos na região de Presidente Prudente (SP), em Londrina e Maringá (PR), na região de Luís Eduardo Magalhães (BA). Onze no total, para atender essas regiões de muitas cargas. Começaremos ainda este ano.

Jabes Magalhães da Silva (foto abaixo) (Taquara-RS) – Por que os postos praticam os mesmos preços, formando um cartel?
Tem má informação aí. Quero explicar o seguinte: primeiro, no Brasil só tem a Petrobrás que extrai e refina; segundo, os impostos são iguais para todo o mundo; terceiro, os salários dos funcionários são definidos em acordos coletivos e também são iguais para todo o mundo. Quando os combustíveis eram tabelados, ganhávamos o equivalente a 46 centavos por litro. Hoje, ganhamos 17 centavos brutos. Não podemos aumentar nem temos condições de baixar. O nome disso é concorrência, o preço é igual não porque exista cartel, e sim porque tem concorrência. Se a nossa situação fosse fácil, não teríamos tantos postos fechando nas estradas. Muitos motoristas também carregam pelo mesmo preço e isso não quer dizer que eles façam cartel. A imprensa é que gosta de dizer que os postos fazem cartel, porque chama a atenção. Mesmo assim, existem grandes diferenças de preços do diesel de uma cidade para outra. Vindo a Cuiabá, me visite, que eu lhe mostro as notas.

Jonas José Pandolfo (foto ao lado)(Porto Alegre-RS) – Por que os postos só deixam a gente estacionar se abastecermos?
Nos meus postos de Rondonópolis e Cuiabá, que têm pátio grande, qualquer um pode estacionar. Em Cubatão e Curitiba não tem pátio e a gente precisa fazer uma opção: se aceita quem não abastece, falta lugar para quem abastece. E aí eu tenho que priorizar o meu cliente.