Diminuição de números de CNHs nas categorias C, D, e E seria um dos indicativos de que o teste do fio de cabelo afasta motoristas drogados
Nelson Bortolin
Coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto não se conforma com as pessoas e entidades que criticam o exame toxicológico de larga janela de detecção para motoristas profissionais. Na opinião dele, o exame, que teve início em março de 2015, é o principal responsável pela queda no número de acidentes no País, principalmente os que envolvem caminhões e ônibus.
No ano passado, segundo Rizzotto, foi registrada uma redução de 34% nas ocorrências com veículos de carga. Há quem acredite que esse fato está relacionado com a queda do tráfego nas rodovias em função da crise econômica. O coordenador discorda. Isso porque, segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), a queda no tráfego foi bem menor – de apenas 10% considerando todos os tipos de veículos. “O único fato que pode explicar parcialmente uma queda tão expressiva dos acidentes de caminhão e ônibus é o exame toxicológico”, alega.
Rizzotto ainda sustenta que, desde o início da obrigatoriedade do exame vem diminuindo o número de carteiras de habilitação nas categorias C, D e E. Hoje, são cerca de 1,2 milhão a menos desses documentos. Parte dessas pessoas migrou para as categorias A e B, que não permitem conduzir caminhões nem ônibus.
Sem citar números, o presidente da Associação Nacional dos Detran (AND), Antônio Carlos Gouveia, disse à Carga Pesada que, para fugir do custo do exame (em torno de R$ 300), essas pessoas fizeram a mudança de categoria porque não dirigiam mais caminhões e ônibus. Rizzotto rebate. Diz que apenas 300 das 1,2 milhão de pessoas fizeram isso. As 900 mil restantes teriam simplesmente deixado de renovar a habilitação porque temiam que o resultado do exame viesse positivo.
Para o coordenador, o presidente da AND desconhece os dados dos próprios Detrans. “Nunca antes na história dos Detrans o número de habilitações C, D e E havia deixado de crescer”, alega.
CONTROLE
Na entrevista para a Carga Pesada, o presidente da AND havia apontado a existência de fraudes e criticado o fato de os Detrans não poderem fiscalizar os laboratórios responsáveis pelos exames. “Os Detrans não conseguem controlar nem as fraudes de venda de CNHs. E não teriam competência para fiscalizar os laboratórios”, critica. E diz mais: “Não fiscalizam adequadamente os peritos examinadores, assim como também não fiscaliza as autoescolas. Vão fiscalizar os laboratórios sem o menor preparo para isso?”, duvida.
TESTE DE SALIVA
Rizzotto chama de “balela” o fato de algumas entidades, alegando custos menores, defenderem o teste de saliva em vez do exame de fio de cabelo. “Cada teste de saliva representa um custo entre R$ 140 e R$ 200, dependendo do dólar. Isso sem contar toda operação de fiscalização envolvida, agentes de trânsito, combustível, guinchos, interferência no fluxo viário, etc.”, diz o coordenador.
Aplicado nas rodovias, o teste de saliva seria capaz de apontar se o motorista está sob efeito de drogas no momento da blitz. O exame toxicológico de larga janela de detecção diz se o condutor consumiu as substâncias nos últimos três meses, sem precisar o momento do consumo.
TRANSPORTADORES
Além dos Detrans, o coordenador criticou os representantes do setor de transporte que se posicionam contra o exame. E acusou a NTC&Logística e o Sindicato das Empresas de Transportes de São Paulo (Setcesp) de terem lutado para reduzir os direitos conquistados pelos caminhoneiros na lei 12.619, que foi revogada. O excesso de horas na direção, diz ele, é a principal justificativa para os condutores usarem drogas.
“Quem cria as condições de exploração que levam muitos motoristas a usar drogas para suportar a jornada é contra o exame toxicológico”, ressalta. Pra ele, esta seria uma “coerência do mal”. “Hoje, as empresas de transporte reclamam do roubo de carga, mas esquecem que os motoristas que usam drogas estão próximos do mundo do crime”, afirma. São esses motoristas que, segundo Rizzotto, alimentam as quadrilhas de informações sobre o transporte de carga.
O coordenador também acusa as transportadoras de não atuarem para evitar que seus motoristas usem drogas. “Falar em programas de prevenção de álcool e drogas nas empresas é brincadeira. São raros e louváveis os casos, mas a grande maioria somente cria programas por força de lei”, considera.
Sobrou também para as entidades que representam os caminhoneiros, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Terrestres (CNTTT). Para Rizzoto, elas não representam de fato os interesses dos motoristas.
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