Carretas de eixos distanciados já conquistaram mercado em operações em boas rodovias; e transportadores de granéis cogitam usá-las com cavalos 6×2, se a exigência de 6×4 para bitrem a partir de 2010 for mantida
Nelson Bortolin
Quando a resolução 210 do Contran entrou em vigor, no fim de 2006, e o peso bruto total (PBT) das vanderléias passou de 45 para 53 toneladas, falou-se que essas carretas de três eixos espaçados (ou um espaçado e dois em tandem) poderiam substituir o bitrem, carreta de sete eixos cujo peso bruto total combinado (PBTC) chega a 57 toneladas. De fato, cresceram as vendas de vanderléias, mas os bitrens não perderam a preferência, até porque a maior parte destes implementos é vendida para a aplicação graneleira, que envolve muitas vezes a retirada do produto na roça, condição para a qual as carretas de eixos espaçados são consideradas inadequadas.
Mas a exigência de tração 6×4 para bitrens a partir de outubro de 2010, prevista em resolução do Contran, pode mudar este quadro, se considerada apenas a relação custo-benefício. É o que pensa Cláudio Adamucho, presidente do G10 e um dos maiores frotistas de bitrens do país: “Se realmente vier a exigência, eu mudo para as vanderléias”, diz ele. Adamucho é contra a exigência da tração 6×4 para bitrens. Na opinião dele, os 6×2 usados atualmente são suficientes para a movimentação dos grãos.
Pelo menos 90% da frota do G10, estimada em cerca de 500 caminhões, são bitrens. Mas o grupo já utiliza cerca de 35 carretas com eixos espaçados em aplicações como açúcar e farelo de soja, que não implicam na operação em piso misto. Elas são puxadas pelos mesmos cavalos 6×2 que hoje são admitidos para puxar bitrens.
Embora seu PBTC seja inferior ao bitrem em quatro toneladas, o presidente do G10 se mostra disposto a arriscar a mudança, mesmo sabendo que uma vanderléia tem um custo de manutenção mais alto. “O implemento é feito de ferro e madeira, em qualquer um a manutenção não deixa de ser simples. Já o cavalo 6×4, com um eixo a mais e muita tecnologia embarcada, custa mais na aquisição e na manutenção, além de consumir mais combustível e pneus”, avalia.
Comparando com o bitrem, a vanderléia é um implemento mais barato – de 15 a 25%, dependendo da marca. Mas desde 2006, quando se passou a admitir uma capacidade de carga maior para elas, sua aplicação não chegou aos granéis. Seu ganho de peso está na comparação com as carretas tradicionais de três eixos.
Norberto José Fabris, diretor-executivo da Randon, diz que elas precisam de boas estradas. “Não é uma carreta própria para ir buscar soja no meio de uma lavoura no interior do Centro-Oeste.” Mesmo assim, suas vendas cresceram. Hoje, de acordo com Fabris, as vanderléias representam 22% dos implementos no setor de carga seca, 15% dos siders e 3% dos tanques. Já o bitrem tem 85% do segmento graneleiro, 85% dos tanques e 45% dos basculantes.
O gerente de vendas da Guerra, Pedro Bolzzoni, conta que as vanderléias são mais indicadas para transporte ponto-a-ponto em rodovias de boas condições. “Caso contrário, seus ganhos em maior capacidade podem se perder nos custos altos de manutenção decorrentes das condições ruins das estradas”, afirma.
O gerente de Marketing da Noma do Brasil, Kimio Mori, nota que o uso das vanderléias cresceu numa região específica, a Grande São Paulo, “onde se tem boas rodovias”, em aplicações como siders e tanques. “Nós fazemos vanderléias, mas não incentivamos o cliente a comprar se for para usar em estradas ruins. Além disso, em geral os motoristas não gostam de vanderléias, que exigem mais cuidados na direção.”
Entre os transportadores, Edilson Binotto, diretor de operações da Binotto, diz que não gosta das vanderléias, mas usa assim mesmo. Desde o ano passado, a empresa vem comprando esses implementos. Hoje, a Binotto possui 150 vanderléias e 180 bitrens. Questionado sobre a vantagem das carretas com eixos espaçados, ele é curto e grosso. “Nenhuma. A vanderléia é uma carreta que apresenta mais problemas de manutenção. É mais difícil de operar. Mas caiu na graça do mercado e sou obrigado a comprar.”
Segundo ele, a manutenção da vanderléia é 30% mais cara, por causa do eixo autodirecional. Binotto acredita que o futuro das carretas com eixos espaçados depende de como vai se comportar seu custo operacional ao longo do tempo. “Hoje, as vanderléias ainda são novas. Vamos ver daqui a alguns anos.”
Outro que prefere bitrens é Oswaldo Vieira Caixeta Jr., da Transac, de Paulínia (SP), que transporta combustíveis. E olhe que a vanderléia é considerada um bom implemento para o segmento de tanques. “Mas os bitrens são mais seguros e de manutenção mais fácil.” A empresa de Caixeta tem 40 bitrens, 35 carretas convencionais e 15 vanderléias.
Para o diretor de Novos Negócios do Grupo Gafor, Philippe Aymard, é difícil comparar as performances de bitrens e vanderléias. “Depende do produto transportado e das condições da operação.” A Gafor fez recentemente um estudo que apontou vantagem das vanderléias para determinado granel líquido, “mas já tivemos uma situação para granel sólido em que o bitrem se mostrou mais competitivo, levando um pouquinho mais de carga e com um custo operacional melhor”, diz Aymard.