A falta de caminhoneiro tem sido tão grande que Otacílio Moreira de Almeida, dono da Transportadora Almeida, teve de voltar para a estrada. O filho fez o mesmo. “Viajo para Feira de Santana (BA) e meu filho para São José dos Campos (SP), cada um num rodotrem”, conta ele que tem a empresa em Marília (SP), com uma frota de 60 veículos.
No capitalismo é assim. Quanto mais rara uma mercadoria, mais valor ela tem. A regra vale também para a força de trabalho. A escassez de mão de obra tem aberto uma série de oportunidades para motoristas no País. Este é o tema da reportagem da nova edição da Carga Pesada. Clique aqui para ler o texto completo.
Segundo Almeida, é preciso melhorar os salários para atrair motoristas. “Mas, com o frete que temos no Brasil, isso não é possível.” Na empresa dele, os motoristas continuam ganhando por comissão e não levam mais que R$ 2 mil por mês. Para ele, a Lei do Descanso (lei 12.619) é inaplicável e ninguém consegue pagar uma prestação de caminhão novo se o veículo não rodar “16, 17 horas” por dia. “Fiz isso a vida inteira e nunca me acidentei.”
Outro a dizer que a lei está fora da realidade é Jefferson Zago, da Jeff Transporte, de Sangão (SC). Com 25 carretas, ele diz que seus motoristas continuam a dirigir 16 horas por dia e a receber comissões para levar cargas de granito e telhas. “O governo incentivou a gente a se endividar com os caminhões. Depois, sancionou a Lei do Descanso. Mas, para pagar os caminhões, precisamos que eles continuem com a mesma produtividade”, justifica.
Para Zago, o ideal é que os caminhoneiros empregados possam trabalhar ao menos 14 horas por dia. Mas isso não vai acabar em rebite? – perguntamos. “Viajei 17 anos e nunca tomei rebite. Bastam oito horas diárias para o motorista descansar. Não é um serviço braçal”, argumenta.
Já a Lontano Transportes, que tem matriz em Campo Grande (MS), convidou seus motoristas aposentados para voltarem ao volante. Doze já aceitaram, segundo o diretor Airton Dall’Agnol. “Os mais velhos reclamavam que não conseguiam fazer o mesmo número de horas dos mais novos. Com a Lei do Descanso, todo o mundo está trabalhando e ganhando a mesma coisa.”
A empresa conta com 250 empregados no transporte de grãos e calcário, mas eles são só 10% da mão de obra. O resto é agregado. Segundo ele, essa minoria é necessária. “Uma transportadora tem de ter frota própria. Ela é seu cartão de visita”, considera.