Grupo de transportadoras esclarece sobre testes desenvolvidos em projeto de homologação e responde às críticas feitas ao veículo recentemente aprovado pelo Contran

Nelson Bortolin

Com mais de 700 carretas de quatro eixos, o Grupo G10 Transportes, de Maringá, está bem satisfeito com o desempenho do implemento recentemente homologado pelo Conselho Nacional do Trânsito (Contran), por meio da resolução 882. As transportadoras do grupo, em conjunto com a Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná (Fetranspar), foram uma das principais defensoras da nova configuração junto às autoridades em Brasília.

Sérgio Cordiolli, diretor da Cordiolli Transportes, empresa do G10, e o gerente Jurídico da G10 Transportes, Marcos Rogério Scioli, atuaram como observadores indicados pela Fetranspar no Grupo de Trabalho (GT) designado pelo Ministério da Infraestrutura para estudar o veículo. O GT foi coordenado pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV).

Com Peso Bruto Total Combinado (PBTC) de 58,5 toneladas (uma tonelada e meia maior que o do bitrem), o veículo é tracionado por um cavalo 6×2 e conta com 17,5 metros de comprimento. E é considerado mais versátil pelo G10.

Em entrevista para a TV Carga Pesada, Sérgio Cordiolli disse, por exemplo, que determinadas cargas como chapas de aço cabem na quatro eixos mas não cabem nas carretas do bitrem. “Além disso, é mais fácil de conseguir motorista para a carreta de quarto eixos do que para o biarticulado. A carreta de quatro eixos é mais fácil de manobrar e tem menos restrições para estacionamento”, acrescenta o gerente Jurídico.

De acordo com o G10, a nova combinação consome menos combustível e é, portanto, mais sustentável. A estimativa é que, em comparação com similares, cada conjunto gaste 300 litros a menos de diesel por mês.

HISTÓRICO

O gerente Jurídico lembra que o implemento foi apresentado inicialmente pela Guerra na Fenatran de 2009 e despertou o interesse dos frotistas.

As transformações começaram a ser feitas pelo G10 com a inclusão de um quarto eixo nas carretas Vanderléias, que têm três eixos espaçados e PBTC de 53 toneladas. As primeiras mudanças que se tem notícia foram realizadas ainda em 2011/2012, quando teve início a exigência de cavalo 6×4 para tracionar bitrens.

“O artigo 9º da resolução 292 do Contran permite essa transformação”, afirma o advogado. “Entre os requisitos principais estabelecidos na resolução está a autorização prévia do Detran onde o veículo está registrado”, conta. “De posse dessa autorização prévia e da aquisição de eixos zero quilômetro, começamos a fazer a implementação. Na sequência, submetemos o semirreboque a uma inspeção veicular na qual se faz a certificação pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e é realizada a emissão do CSV (Certificado de Segurança veicular). Após auditagem, é emitido novo CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo) com as observações da modificação”, complementa.

Segundo ele, até 2018, não havia “celeuma” sobre o tema. Mas uma nova portaria do Denatran provocou questionamentos sobre a carreta de quatro eixos. Foi então que se intensificaram as gestões para que a questão fosse pacificada pelo Contran, o que ocorreu com a resolução 882.

A carreta de quatro eixos não é consenso no setor. Para os críticos, trata-se de uma combinação prejudicial ao pavimento.

Em 2020, o G10 passou a integrar, na condição de observador, o grupo de trabalho criado pelo Ministério da Infraestrutura por indicação da Federação das Empresas de Transporte do Paraná (Fetranspar).

O gerente Jurídico conta que o GT realizou testes com o veículo em duas etapas, uma em Limeira (SP), na pista de teste da ZF, e outra em Farroupilha (RS), no centro de testes da Randon.

Segundo Scioli, esses testes comprovaram que a configuração com cavalo 6×2 é capaz de vencer rampas com coeficiente de inclinação de 6% e coeficiente de atrito de 0,45 sem patinar, condições que são exigidas pela legislação. Os críticos dizem que não. Mas, de acordo com o advogado, essas críticas à configuração “talvez ocorram por desconhecimento do conteúdo de todo o trabalho realizado antes da homologação definitiva da carreta”. “Tudo foi feito de forma muito transparente. Além dos testes práticos e teóricos, a resolução 882 foi precedida de uma consulta pública que teve mais de 630 contribuições.”

Sérgio Cordiolli conta que o G10 tem cerca de 700 carretas de quatro eixos e estima que, em todo Brasil, sejam mais de 7 mil dessas configurações. Ele ressalta que a tendência é que as empresas do grupo ampliem a frota de quatro eixos. “Se fosse trabalhar só no agronegócio, a gente compraria também o bitrem. Mas como a gente diversifica as cargas, por enquanto vamos optar pelo quarto eixo.”

Bitrem 6×2

Scioli ressalta a importância da decisão de permitir a volta do 6×2 para tracionar bitrem, também prevista na resolução 882, uma vez que os testes realizados comprovariam que “não há qualquer restrição técnica para o cavalo-trator vencer aclives de 6%, com o coeficiente de atrito de 0,45, sem dificuldades e sem patinar”.

Segundo ele, não foram utilizados nos testes adicionais tecnológicos como controle de tração, bloqueio de diferencial ou controle de suspensão. Se mesmo assim o veículo não patina, não haveria porque acreditar que ele possa provocar enrugamento do asfalto.

O gerente jurídico informa que a volta do 6×2 não foi um pleito diretamente defendido pelo G10 (que estava empenhado no projeto de homologação da carreta de quatro eixos). Mas uma reivindicação de entidades como a NTC&Logística e o Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo (Setcesp).

Scioli ressalta, no entanto, que as conclusões GT da carreta de quatro eixos, especificamente no que se refere aos testes de rampa, “certamente enriqueceram os argumentos e fundamentos que embasaram” o Contran a decidir pela volta do 6×2 no bitrem.