Luciano Alves Pereira

É um cenário tido e havido como imutável já que a ex-ministra da Casa Civil e senadora Gleisi Hoffmann explicou por vias transversas, o massacre de Minas rodoviário. A ilustre petista observou que o ‘sucesso do ingrato’ Eduardo Campos (PSB-PE), governador de Pernambuco, “deve-se ao apoio financeiro da União ao seu estado”. A recíproca é verdadeira. O lulopetismo não fez a sua obrigação com destroçada infraestrutura mineira para não alavancar a popularidade dos governos de oposição.

Passivamente, a mineirada pouco ou nada reclama. Porque pode ser pior.  De fato, o contraste que se vê no Brasil afora é de estarrecer. No Rio de Janeiro, governo do PMDB, temos o Arco Metropolitano e a nova subida da serra de Petrópolis, que não corre por conta da concessionária Concer. Bilhões e bilhões de reais destinam-se a obras viárias. Além disso, o metrô de Ipanema  também está andando. No Rio Grande do Sul, governo do PT, mais bilhões são despejados, entre outras, na construção da Rodovia do Parque (BR-448), recentemente inaugurada.

Em quadro sem remédio, o governo de Minas resolveu ousar. Aceitou a desistência do DNIT (de março de 2013), quanto à intenção de tocar o projeto do Rodoanel de BH e está buscando parcerias para construir o que será o Contorno Metropolitano Norte. Seu custo passará de R$ 4 bilhões. O anúncio oficial foi feito no princípio de fevereiro e terá o formato de PPP, quando o estado entrará com R$ 800 milhões por quatro anos, tempo estimado da obra.

Considerando a extrema necessidade de alívio para o saturado Anel Rodoviário, inaugurado por João Goulart em 1963, o governador se apressa. O edital de concessão deve ser publicado em março, oferecendo contrato de 30 anos. Claro, mediante cobrança de pedágio. A autoestrada mede 66 quilômetros de extensão, passando a oeste da capital, bem lá nos cafundós da zona rural, para baratear as desapropriações.

TÚNEIS ─ Começará em Betim (BR-381) e retornará à mesma 381, na altura de Ravena (distrito de Sabará), rumo a João Monlevade. Entre as pontas, cortará os municípios de Contagem, Ribeirão das Neves, Pedro Leopoldo, Vespasiano e Santa Luzia. O objetivo dos projetistas é atrair cerca de 70 mil veículos por dia (VMD), desafogando o Anel Rodoviário em 50%, este duplicado em 1982 por Eliseu Resende, então ministro dos Transportes.

O Rodoanel Norte conterá 14 inevitáveis acessos, por enquanto. O que não concorre para a boa segurança da via. Foi pensada com pista dupla de duas faixas de 7,20 m por sentido, canteiro central bem largo, de 15 m (prevendo a expansão da sua capacidade) e acostamentos de 3 m. Especifica ainda três túneis, com extensão total de 2.900 m.

Não aponta, no entanto, a rampa máxima nem o raio mínimo das curvas. Detalhe de suma importância como o pedágio também não está definido. Inexiste, claro, por mínima que seja, a intenção de reservar área para a construção de trukstops. Sobre o anterior, um jornal local fala em R$ 7,50 por eixo. O valor divide opiniões: há quem diga que é muito caro, afugenta os caminhoneiros. Outros opinam em favor da concessionária: deixa de ser atraente para um investimento que superará os R$ 4 bilhões.  

Representantes de várias empreiteiras estiveram na audiência do começo de fevereiro e, como lembrado acima, questionaram o edital, ainda em elaboração.  Questionamento que se estende a outros aspectos da iniciativa. Primeiro, o valor do pedágio, em duas praças de cobrança por sentido, em curtos 66 quilômetros. Ainda no campo dos mergulhos ao futuro e continuidade da iniciativa, vem a inevitável indagação sobre quem será o próximo governante, cujo mandato começará logo após o segundo turno das eleições, caso haja.

Tentando neutralizar as incertezas do projeto, o secretário de Transportes e Obras Públicas, Carlos Melles, surpreendeu a plateia quando considerou que, equacionados todos os elementos constitutivos e construtivos do Rodoanel Norte de BH, ele ficará pronto antes da modernização e adequação do problemático Anel Rodoviário do João Goulart. Por mais absurda a previsão, seu comentário dá o que pensar, em face da realidade. A modernização deste dependerá do reassentamento de 4 mil famílias (há quem diga que são 8 mil) que ocuparam há décadas as suas margens, embora o antigo DNER tivesse um batalhão de procuradores dedicados à guarda dos próprios da autarquia. Curioso é que há mais de três anos, o pioneiro Isauro Figueiredo, fundador do Expresso Figueiredo, de Belo Horizonte, já havia se antecipado a Carlos Melles. E a gente não acreditou…