Com brados de Aleluia! Aleluia! o TRC pátrio comemora o final do extenso calvário de obras de duplicação da mortífera BR-2, hoje rodovia Edmundo Régis Bittencourt
Luciano Alves Pereira
São 390 quilômetros que ligam São Paulo a Curitiba e dali seguem para o grande Sul, alcançando a Argentina, Chile e Uruguai. Após tanto tempo, faltava um curto segmento de dez quilômetros na superação da serra do Cafezal. Levou sete anos para o arremate e enfim o anúncio da concessionária Autopista Régis Bittencourt promover encontro com a imprensa a divulgar a boa nova em 13 de dezembro. O foguetório faz sentido por sua importância como o estancamento (espera-se) ao morticínio sobre suas pistas, já que sua saturação data de logo após a liberação da pista única, em 1960.
Como reforço à memória, impõe-se considerar que, eleito sucessor de JK, o birrento Jânio Quadros foi empossado em janeiro de 1961. Ele (da UDN) jamais se prestaria a dividir popularidade com seu antecessor e opositor indireto do PSD, nas eleições do ano anterior. Portanto, repetindo, a BR-2 (depois, BR-116/parte) é obra do visionário JK. Assim como a BR-3, a BR-55, BR-31, etc.
Diante do sufoco, os governos militares vinham duplicando a Régis. Mais lentamente, após o primeiro choque do petróleo. Por volta de 1978, o ministério dos Transportes anunciou o VMD (volume médio diário) de 8 mil, com largo predomínio de caminhões. Veio o governo seguinte, tendo como ministro da Pasta, o mineiro Eliseu Resende. Ele pensava em ser governador do seu Estado. Então interrompeu o cronograma de obras da Régis e reencaminhou as verbas federais para a duplicação do pesadelo chamado Anel Rodoviário de BH. De lambuja estendeu o benefício até o trevo de Itabirito (BR-040). Contados os votos, o esforço chapa branca resultou nulo. Tancredo saiu vitorioso.
ENGANAÇÃO −Nisso o desespero tomou conta das cidades ao longo da Régis, enquanto o perfil do tráfego notava a chegada das carretas de três eixos com cavalos no toco. Moradores e usuários se mobilizaram para formar movimentos, por piedade antecipada aos que iam morrer. Em Registro (SP), a 194 quilômetros da capital, surgiu o Pró-duplicação da BR-116. Seu primeiro secretário, Lázaro Gomes Silva, já atualizara o VMD viário de 23 mil, dos quais 80% caminhões. Diante do clamor beira-via, o deputado paulista Ulisses Guimarães (tido como pai da constituição de 1988) se juntou com então governador paulista Orestes Quércia para mais um esquema de enganação popular. E não era o mal afamado Plano Cruzado. Mandaram o DNER (hoje extinto) publicar edital para a duplicação da Régis e se fartaram com os benefícios eleitorais da iniciativa. Nas vésperas da concorrência, houve o seu planejado cancelamento. No entanto, o efeito pretendido não falhou. Quércia fez o seu sucessor com a eleição de Luiz Fleury, mas consta que quebrou o principal banco estatal paulista, o Banespa.
Neste final de ano rodo-auspicioso, o arremate da Régis duplicada compreendeu obra de 30,5 quilômetros entre aos municípios de Miracatu e Juquitiba (ambos paulistas) e absorveu o investimento de R$ 1,3 bilhão originado do BNDES, através de empréstimo subsidiado. Os dez quilômetros finais é que agarraram. Neles foram furados quatro túneis e construídos sete quilômetros de viadutos. Tudo para resultar no mínimo dano ambiental à serra do Cafezal, um viçoso maciço da Mata Atlântica.
A Autopista Bittencourt informou que atualmente 3,8 milhões de veículos/mês passam por suas seis praças de pedágio. Mais da metade é de caminhões, donde se conclui no ato tratar de uma truckroad e 2/3 de toda receita da concessionária deve vir do nosso TRC sofrido. Trocados em miúdos, dá 127 mil/dia ou 76,2 mil caminhões nas mesmas 24 horas. Na serra do Cafezal, o VMD chega a 25 mil ou 15 mil caminhões, carretas e bitréns de todos os portes, é a informação da Autopista Régis.
Curvado sob os números e encerrada a fase de desembolso de capital intensivo, cabe ao setor de carga cobrar indispensáveis dispositivos obrigatórios extra-via, tais como pontos de parada seguros e gratuitos para descanso, serviço de manutenção mecânica, mais rampas de escape, ampliação da conectividade (wi-fi), melhor acompanhamento das cargas perigosas e ampliação de equipes especializadas para rápida liberação da via em caso de sinistro. Sempre pensando numa condicionante pétrea: não existe alternativa viária de SP e Curitiba, em caso de trancamento da pista. Com a referida capacidade, jamais.
Veja no link abaixo reportagem veiculada na edição de hoje, 19/12, no Jornal Hoje da Rede Globo:
http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2017/12/regis-bittencourt-e-totalmente-duplicada-apos-7-anos-em-obra.html