Governo ainda não definiu quando a medidas entrará em vigor nem a taxa de juros
Nelson Bortolin
O anúncio de uma linha de crédito do BNDES para caminhoneiros comprarem pneus e fazerem manutenção nos veículos dividiu as opiniões de motoristas e leitores da Carga Pesada. Divulgada pelo governo federal na terça-feira (16), a medida ainda não tem data para ser implementada e tampouco se sabe qual será a taxa de juros do financiamento e o prazo de pagamento. Cada caminhoneiro poderá tomar R$ 30 mil.
“Parece muito bom. Dependendo dos juros eu pegaria”, disse à reportagem o caminhoneiro Reinaldo Oliveira Santos, autônomo de São Paulo, que tem um Mercedes Benz modelo 1113, ano 1986, e transporta balcões refrigerados. “Com R$ 30 mil, eu faria uma reforma geral no caminhão: motor, pneus, carroceria.”
Santos leva o caminhão para a oficina quando necessário. Não faz manutenção preventiva. “O caminhão é de ferro, mas de repente quebra. Aí tem de parar para arrumar”, alega.
O custo com pneus costuma ser maior que o da mecânica. Se for trocar os 10 pneus do veículo, Santos gastaria R$ 15 mil. “Se não andar muito pesado, o pneu novo chega a durar dois anos”, explica. No ano passado, ele calcula ter gastado R$ 25 mil com manutenção, incluindo troca ou recapagem de pneus. “Uma conta na oficina nunca fica menos de R$ 1 mil.”
Na semana passada, o curitibano Paulo Dias França, que transporta carga geral, teve de emprestar R$ 4,5 mil para trocar o diferencial do seu Ford Cargo, modelo 1418, ano 1988. “Dependendo de quanto forem os juros do governo, eu quero o financiamento”, afirma. Há pouco tempo, ele gastou R$ 2 mil para recapar quatro pneus.
Nei Wilson Ribeiro tem um Volvo VM 270, ano 2013, e também se interessou pelo financiamento. “Tem muita manutenção que eu vou empurrando com a barriga.” A última vez que ele revisou o freio, o sistema estava praticamente inutilizável. “Não dava mais para rodar.”
Ribeiro diz que seu faturamento bruto mensal é de R$ 12 mil. Descontando diesel e a parcela do financiamento do caminhão (R$ 3,5 mil), sobram R$ 4,3 mil, valor do qual tem de sair o sustento da família e a manutenção do veículo. “Já tenho três parcelas atrasadas da escola da minha filha.”
Já para Vanduir Blanco Regina, de Curitiba, a proposta de financiamento é uma armadilha. “É para gente ficar mais endividado. Mesmo que os juros fossem bons eu não pegaria. É mais um abacaxi para a gente”, alega.
A contribuição que o governo deveria dar à categoria, na opinião dele, é controlar os preços do diesel e do pedágio e fiscalizar o cumprimento da tabela de frete. “Nós queremos ter condições de trabalho, poder pagar a manutenção com os fretes que fazemos.”
O leitor Carlos Eduardo concorda. “O governo como sempre querendo tapar sol com peneira. Essas medidas não resolvem e como sempre os menos favorecidos pagam a conta. Os autônomos precisam de incentivo concreto, pois representam uma fatia muito significativa do transporte”, escreveu ele no site da Carga Pesada. “É fato que a frota dos autônomos já está idade avançada, e muitos carecem de manutenção rigorosa pra continuar a operar, mas contar com um favorzinho do governo em nada resolve… Se honrar a tabela mínima de frete, já tá meio caminho andado”, complementou.
Rogerio Arange também disse que a medida não resolve o problema e “todos vão ficar mais endividados”. Já Flávio de Macedo questionou: “E pagar como? Hoje ou você cuida do caminhão ou da família. Deveria era fazer cumprir a tabela frete.”