Edição 189 – dez 2016/jan 2017
Nelson Bortolin
Há muito tempo o Brasil não vivia momentos tão difíceis. Faz três anos que a economia não cresce, só encolhe. Ninguém sabe dizer ao certo se o fundo do poço já chegou ou se a coisa ainda pode ficar mais feia. Economistas preveem um pequeno crescimento para 2017. No setor de transporte de carga, alguns acreditam num ano melhor e outros continuam ressabiados.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo (Setcesp), Tayguara Helou, está no primeiro grupo. Ele acha que o TRC crescerá de 1,5% a 2,5% porque sofre um “efeito múltiplo” da economia. “Somos responsáveis pelo transporte em diversas fases – matéria-prima, equipamentos de fabricação, produto semiacabado, embalagem, produto pronto.Vai ser um bom ano para as empresas que pouparam na infraestrutura e se prepararam para esta retomada da economia”, diz Segundo Helou, a responsabilidade pela retomada do crescimento é de todos e o empresariado “tem feito sua parte”. “Mas acho que as empresas precisam resgatar seu protagonismo histórico. Para isso, precisam separar a crise política da situação econômica do País”.
Ele acredita que a crise política vai longe, devido às investigações de corrupção em curso. “Mas o empresariado precisa voltar a acreditar na economia, voltar a investir e a contratar, para que o Brasil possa crescer”, defende. Questionado se não era de se esperar uma situação política e econômica melhor no fim de 2016, ele diz que não. “Sabíamos que a economia não se recuperaria de imediato após o impeachment (da presidente Dilma Rousseff ). E isso nada tem a ver com a competência do novo governo, essas coisas não se fazem da noite para o dia”, declara. O empresário defende que a classe trabalhe junto com o governo do presidente Michel Temer (PMDB) para “recuperar o País do estrago feito pela gestão passada”.
Já Gilberto Cantu, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Paraná (Setcepar), tem uma visão mais crítica. “Diante dos últimos acontecimentos, as perspectivas para 2017 são sombrias”, diz ele, referindo-se aos fatos da política e da economia. Quando Cantu falou com a Carga Pesada, no dia 8 de dezembro, o País vivia a expectativa da delação premiada dos executivos da empreiteira Odebrecht, na qual se espera que surjam denúncias de entrega de dinheiro a políticos de todos os partidos, muitos dos quais membros do governo. Na mesma ocasião, a Petrobras havia aumentado o preço dos combustíveis, o que levou o diesel a perto de R$ 3 o litro nas bombas. “A cada semana, nós temos uma nova notícia horrível”, disse o presidente do Setcepar. Na opinião dele, nem mesmo a equipe econômica de “alto nível” do governo Temer será capaz de dar jeito no País se a crise política não for sanada. “O empresariado vai segurar os investimentos até que se tenha um horizonte mais claro. Não acho que o ano que vem vai ser melhor. Pode até piorar”, completa.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística do Rio Grande do Sul (Setcergs), Afrânio Kieling, não é tão pessimista. Ele acredita que o governo Temer vai começar a funcionar e coloca até uma data para que os benefícios da retomada do crescimento cheguem ao transporte: junho de 2017. “Até lá, teremos uma realidade diferente”, diz Kieling. “Para isso, é preciso que o governo, junto com o Congresso Nacional, consiga aprovar as reformas mais importantes que estão na mesa. Como a PEC 241, que obriga o governo a não gastar mais do que tem, como qualquer empresa tem que fazer para sobreviver.” Segundo Kieling, nessa hora, quando o Brasil estiver com a economia em boa direção e retomando o crescimento, “vai faltar empresa de transporte”, e o cenário ficará bom para elas. “Será o oposto do momento atual, pois, devido à situação que temos vivido, tivemos que enxugar as empresas por falta de receitas para cobrir os custos.”
VIDA NOVA – Se tem alguém no TRC com motivos para estar otimista para o novo ano é o caminhoneiro baiano Luis Carlos dos Santos, que venceu o Scania Driver Competitions deste ano e ganhou um Scania Streamline R 440 6×2 zero-quilômetro. Para Santos, que mora em Salvador, 2017 será o ano de deixar de ser empregado e iniciar negócio próprio. Ele ainda não sabe se vai se agregar ao transporte de líquidos ou comprar um baú para puxar cargas diversas. “No caso dos combustíveis, acredito que já em fevereiro, devido à safra, o transporte de álcool estará aquecido”, conta. Se for essa a opção, ele não precisará investir em implemento, que é cedido pela transportadora. Mas se a opção do baiano for pelo baú, “a Librelato, que foi uma das patrocinadoras da competição da Scania, está vendo uma maneira de financiar um baú para mim”, conta ele.
Santos diz que nunca trabalhou com transporte de carga seca em baú, mas tem um tio que atua no segmento e já está de olho em fretes para ele. Independente da decisão, o caminhoneiro se sente confiante. “Não tenho medo, começarei o ano com muito otimismo.”