Neta e bisneta de caminhoneiros, Gabi Gonçalves produz bolsas e mochilas com retalhos de lonas – e fez até uma exposição de fotos do mundo estradeiro
Nelson Bortolin
Gabi Gonçalves cresceu brincando na antiga garagem dos caminhões da família, em Juiz de Fora (MG). Seu bisavô e seu avô tinham sido caminhoneiros. Seu passatempo era mexer nas velhas peças dos veículos espalhadas pelo local.
Ela mesma vai procurar lonas nos postos, borracharias e cooperativas, e aproveita para conversar com os caminhoneiros. “Adoro fazer isso.”
Gabi diz que a vida nas estradas não era comentada com as crianças em sua casa. “Lembro de ter visto cicatrizes no corpo do meu avô, por quem era apaixonada. Mas só recentemente soube que eram marcas de um acidente com um caminhão que pegou fogo.”
Seu avô acabou deixando a profissão. “Acho que as marcas no corpo dele foram o motivo que me levou, inconscientemente, a encontrar no trabalho com as lonas uma maneira de contar a vida dos caminhoneiros”, explica. “As marcas e os furos nas lonas dizem muito sobre a vida na estrada.”
Este ano, Gabi resolveu homenagear os caminhoneiros com a exposição “Estradas, uma história, nossas vidas”, de fotos e vídeos, realizada em fevereiro, em Juiz de Fora. Ela teve a ideia, inscreveu-a num edital do Centro Cultural dos Correios e obteve o dinheiro necessário.
Sua intenção foi “combater o preconceito contra o trabalho do caminhoneiro”. Acabou percebendo que a categoria também sofre de invisibilidade. “Uma visitante comentou que, como o caminhoneiro está sempre na estrada, não frequenta os meios sociais e, por isso, muitos nem se lembram que ele existe”, conta.