Vídeo bem-humorado reacende debate sobre limitações técnicas do quarto eixo; engenheiro reforça alertas sobre desgaste, torção do chassi e uso inadequado da suspensão

Nelson Bortolin

Um vídeo engraçado publicado no perfil @dr.gambiarreiro no Instagram vem chamando atenção dos estradeiros. Com muito bom humor, o mecânico de Divinópolis (MG) enumera as desvantagens das carretas de quatro eixos, que ele chama de “onça de quatro patas”. “Começando aí pela questão da mobilidade: ela não tem. Simplesmente amarrou e jogou fora. Dependendo do lugar em que você for manobrar, você não tem muitos recursos. Fica muito limitado em se tratando de mobilidade.”

Em segundo lugar, segundo “as vozes da mente” do mecânico, o chassi da carreta entorta quando o primeiro eixo é levantado. “É aquele negócio: você sai do espeto para cair na brasa. Se você anda com esse eixo abaixado, tende a dar problema nele mesmo; se você anda com ele levantado, tende a dar problema no chassi.”

Dr. Gambiarreiro diz que raras são as oficinas que sabem instalar corretamente o eixo adicional.

Sobre a questão do desgaste de pneu, você pode ficar tranquilo que vai ser igual seu salário. Você colocou ele, vai sumir rapidinho. É a mesma coisa quando você recebe no dia 5… deu dia 10, meu filho, o dinheiro já sumiu na fumaça. É a mesma coisa o pneu, rapaziada.”

O mecânico afirma que o quarto eixo é bom para ele — pela demanda de serviços — mas não o aconselha para os caminhoneiros.

De um jeito muito mais comportado, o engenheiro Rubem Penteado de Melo, da TRS Engenharia, já havia feito alertas sobre esse tipo de carreta. Segundo ele, uma das causas do implemento apresentar problemas é o “vício de se trafegar carregado e com o primeiro eixo suspenso o tempo todo”. “O caminhão fica mais firme, me contam os motoristas. Claro que fica mais firme: recebe mais peso sobre a quinta roda. Mas e os outros eixos e a carreta, como distribuem esse peso?”

De acordo com ele, suspender o primeiro eixo na manobra de pátio é indicado para evitar o arrasto lateral e os danos nos pneus. “Mas suspender o tempo todo enquanto carregado vai afetar a estrutura da carreta e seus eixos.”

Melo explica que suspender o primeiro eixo com o veículo carregado significa aumentar em quase 2,5 metros a distância do vão livre do semirreboque. “Ela perde o apoio central. Os tanques soltarão os quebra-ondas nessa região. Nas carretas comuns — carga seca, sider — apareceram trincas ou fraturas nas longarinas.”