Nelson Bortolin

 

Uma transportadora cobra R$ 3.600 por um frete em carreta-baú 3 eixos de Londrina (PR) a São Paulo. Mas o custo do serviço é de R$ 4.329. Se quisesse ter um lucro de 12%, essa empresa deveria cobrar R$ 5.081, ou seja, 41% a mais para levar a carga. Essa distorção foi levantada pelo engenheiro Antônio Lauro Valdívia, da NTC&Logística, durante­ o seminário da ComJovem (comissão de jovens empresários do transporte rodoviário de carga) realizado nesta quinta-feira (6), em Londrina.

O cálculo foi feito durante a palestra do engenheiro, que é especializado em planejamento e projetos de transportes, em planilha desenvolvida por ele. “O problema do setor é que muitas empresas de transportes não calculam os custos da forma correta”, afirma. Segundo ele, que tem percorrido o País para os seminários da ComJovem, os fretes cobrados estão em média 25% abaixo dos seus custos reais.

Fácil de utilizar, a planilha de Valdívia conta com cerca de 20 campos para serem preenchidos referentes a todos os custos que envolvem a atividade, inclusive aqueles menos lembrados pelos transportadores, como depreciação da frota e remuneração de capital. Basta digitar informações como trajeto, tempo de carga e descarga, capacidade de carga de veículo, seu valor de compra quando novo, média de consumo, salário do motorista, entre outras, que a ferramenta calcula o custo do frete e quanto deverá ser cobrado do cliente após definição de uma margem de lucro.

“O único custo que, em tese, poderia ser retirado é a remuneração de capital, caso o veículo já tenha sido pago. Mas se ainda está sendo financiado, não é possível deixá-lo de fora”, ressalta Valdívia. No exemplo calculado no seminário, a remuneração do capital seria de R$ 309.

De acordo com o engenheiro, boa parte dos transportadores leva em conta somente combustível e mão de obra e esquece as demais despesas. “Muita gente não considera a depreciação e a manutenção, por exemplo. Na hora de renovar a frota, é que o buraco vai aparecer”, declara.

As empresas que não calculam corretamente seus custos, na opinião dele, só sobrevivem contando com os “milagres existentes” no Brasil. “A transportadora colocava um motorista para fazer o serviço de dois, trabalhando 15 horas por dia. Veio a Lei do Descanso (12.619) e está acabando com isso. A empresa atrasa ou não recolhe impostos, mas vem aí o conhecimento eletrônico e vai acabar com esse milagre”, afirma. Segundo Valdívia, quem não trazer os custos na ponta do lápis não sobreviverá por muito tempo. “Os milagres estão acabando”, salienta.

O empresário e coordenador da ComJovem de Londrina, William Zucolote de Oliveira, considera que é possível reduzir o valor de algumas despesas calculadas pelo engenheiro. “A manutenção, por exemplo, é discutível. Dá para sair mais em conta, dependendo do acordo com o fabricante”, declara. Ele também acredita que a planilha deveria contabilizar os créditos de ICMS da compra dos caminhões novos. Com isso, a defasagem real do frete ficaria um pouco menor.

Quem quiser conhecer a planilha de custos do engenheiro deve solicitá-la pelo e-mail lauro@ntc.org.br .