Nelson Bortolin
Revista Carga Pesada
Mais do que as novas regras do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o financiamento de caminhões, a situação econômica do País é responsável pela paralisia nas vendas das concessionárias pelo País. “Se tem PIB (Produto Interno Bruto) você vende caminhão. Se não tem, não vende”, afirma Alarico Assumpção Júnior, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), que representa as revendas.
Em entrevista exclusiva à Carga Pesada, ele afirma que a entidade trabalha com uma perspectiva de que sejam vendidos 14% menos caminhões neste ano na comparação com 2014. “Teremos um primeiro semestre dificílimo e um segundo semestre difícil”, avisa. Confirmada a projeção, serão vendidos 117,8 mil caminhões em 2015, a pior situação desde 2009, em plena crise financeira mundial, quando as vendas ficaram em 109 mil unidades.
O ano começou muito ruim. Em janeiro foram vendidos apenas 7.674 caminhões – queda de 44% na comparação com dezembro de 2014 e de 28% em relação ao mesmo mês do ano passado.
“O governo tem que fazer a roda andar. Hoje, nosso principal pedido, como instituição do setor, é que faça o país crescer”, afirma Alarico. Mas não há esperança de que isso ocorra ainda em 2015. “A nova equipe econômica já deu os parâmetros, o patamar do que será a situação econômica do Brasil: inflação alta, juros altos, endividamento familiar, crédito extremamente restrito e selecionado, tudo isso dificulta”, declara.
Para o presidente, as medidas são necessárias, já que “o paciente (Brasil) está doente”. “É uma ponte que nós lamentavelmente teremos de atravessar.” Com as previsões do mercado de um crescimento zero ou negativo do PIB em 2015, Alarico guarda as esperanças para o ano que vem. “Você tem que tomar esse remédio amargo agora para, a partir de 2016, nós termos, ainda que simbolicamente ou modestamente, uma retomada do crescimento”, destaca.
Finame
O presidente da Fenabrave considera que o mercado terá de conviver com as novas regras do BNDES. E diz que o Finame/PSI ainda oferece os juros mais baratos para se adquirir caminhões no Brasil. Ele ressalta que o Finame é um programa permanente, mas que o PSI é temporário. Foi criado para o governo enfrentar a crise econômica de 2008 e foi prorrogado até hoje. “E o mercado se acomodou. A população compradora de veículos pelo PSI se acostumou com juros deflacionados”, ressalta.
Na opinião de Alarico, com o mercado de caminhões novos em retração, as concessionárias terão de dar atenção especial ao pós-venda. “Pela lógica, quanto menos caminhão novo se vende, mais peças e serviços você vai prestar e vender. Porque o estoque de caminhões em circulação precisa estar adequado para transportar”, afirma.
De acordo com ele, a orientação da Fenabrave para as concessionárias é de “equilibrarem” suas operações. “Não estou sugerindo que façam cortes. Muito pelo contrário. Temos de reter talentos que estão conosco. Isto faz parte de um patrimônio. É a qualificação de gestão de nossa atividade”, declara. Mas, na visão dele, não se pode descartar medidas mas drásticas. “Temos de buscar o equilíbrio. Se temos um carro para levar quatro pessoas, não temos como levar seis, lamentavelmente”, declara. “Este é o cenário. Eu queria dar uma notícia melhor, mas só se eu inventasse. Tenho certeza que dias melhores virão”, complementa.
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