Nelson Bortolin
A julgar pelas entrevistas que a Carga Pesada fez nos postos de combustíveis de Londrina e região neste domingo (22), poucos caminhoneiros estão dispostos a pegar a estrada na quarta-feira (25), dia da greve nacional convocada pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC). Quando questionados se vão aderir à paralisação, muitos respondem: “Se todo mundo parar eu também vou”.
Há aqueles que pretendem parar porque apoiam a pauta de reivindicações do MUBC. Outros afirmam que vão aderir ao movimento por razões que não estão diretamente ligadas à pauta principal. E tem aqueles que preferem ficar em casa com medo de atos vandalismo.
Mais difícil é encontrar alguém como o autônomo de Maringá (PR), Clodonaldo Sérgio Fávaro, de 37 anos, que responde com firmeza: “Não vou parar”. Para ele, a greve não é dos motoristas, mas das “grandes” empresas. “Sempre paguei meus impostos. As empresas que paguem os delas”, afirma.
De acordo com Fávaro, que tem um bitrem graneleiro, o frete melhorou nas últimas semanas devido à safra de milho, mas também em virtude da lei 12.169, que regulamenta a profissão e motorista, obrigando a categoria a descansar meia hora a cada quatro horas ao volante e 11horas ininterruptas entre dois dias de trabalho. “Obrigando o caminhoneiro a parar para descansar, começou a faltar caminhão e o frete subiu”, acredita ele que também apoia o fim da carta-frete.
As principais reivindicações do MUBC estão relacionadas a essas duas questões. Com a greve, o movimento pretende exigir da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a revogação da resolução 3.658, que sepultou a carta-frete e estabeleceu o pagamento dos autônomos por meio de empresas administradoras de cartão magnético, como Repom e Pamcary.
Alegando falta de estacionamento para os caminhoneiros descansarem nas estradas, o MUBC também defende que os efeitos da 12.169 sejam prorrogados por mais um ano.
Assim como caminhoneiro Clodonaldo Fávaro, várias entidades representativas da categoria assinaram documento acusando as grandes empresas de transportes de estarem por trás da greve (clique aqui e leia mais).
De acordo com as entidades, quem mais perde com a lei 12.169 e a resolução 3.658 são as transportadoras. Por causa da lei, elas terão de contratar mais motoristas empregados ou agregados. Já, em decorrência da resolução, passam a ter uma despesa a mais pelos serviços das administradoras de cartão. E ainda têm de declarar todos os fretes que subcontratam de terceiros, afastando qualquer possibilidade de sonegação fiscal.
Morador do Rio de Janeiro, o empregado Lourinaldo da Silva, 43 anos, vai aderir à greve nesta quarta-feira por dois motivos. Primeiro porque receia “levar umas pedradas”. E, segundo, porque teme ficar sem emprego. “Acho que a empresa vai me demitir. Ela não vai conseguir pagar salário para eu trabalhar só oito horas por dia. E também vai preferir carretas aos trucks”, considera ele que não possui habilitação na categoria E.
Carregando “de tudo” de São Bernardo do Campo a Londrina e voltando com elevadores da Atlas, Daniel Fernandes da Costa, 65 anos, é um dos que vão parar “se todo mundo parar”. “Ficar descansando 11horas na estrada é muito tempo. 8 horas já seria muito bom. Além disso, a lei manda descansar, mas não tem estacionamento. Já estão faltando vagas nos postos depois das 22 horas”, ressalta.
O autônomo de Sorocaba Oscar Miguel Rodrigues apoia o fim da carta-frete e a lei do descanso. Ele também afirma que as empresas estão “se escondendo atrás” dos caminhoneiros neste movimento porque foram prejudicadas com o fim da carta-frete. Mesmo assim, “se todo mundo parar”, ele também vai aderir à greve porque está descontente com os valores do frete, do óleo diesel e do pedágio.
Convicto em relação à necessidade da greve está o autônomo de Mafra (SC), Emílio Benkal, 52 anos. “Todo mundo tem de parar mesmo. O valor do frete está muito baixo. A gente tem de pagar para tomar banho na estrada. Não tem área de lazer para a gente descansar”, afirma. Para ele, a carta-frete não deveria ser extinta “Não tenho reclamação dela.” O descanso de 11 horas, segundo o catarinense, é “ruim”. “A gente vai demorar bem mais tempo para voltar para casa”, declara.