A maior clientela do treinamento do Programa Caminhão Escola, da Fabet, único do gênero no Brasil, é de motoristas veteranos, e não dos que querem começar
Esse número astronômico que falam por aí, da falta de até 90 mil motoristas no setor de transporte de cargas no Brasil, tem fundamento, sim senhor. Mas para entender o que ele representa, deve-se colocar na frente da palavra motoristas o adjetivo “qualificados”.
“O transporte de cargas precisa, de fato, de 90 mil motoristas qualificados no Brasil”, estima a gerente de Extensão, Projetos e Parcerias da Fabet – Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, Salete Marisa Argenton. Aos poucos, esses lugares estão sendo preenchidos por novos motoristas e também por aqueles que já estão na profissão. Tanto que o curso de motorista mais procurado da Fabet, segundo Salete, é o PCE Avançado – Programa Caminhão Escola Avançado, oferecido a quem já tem experiência. Muitas empresas têm enviado seus profissionais para o PCE Avançado. Uma demanda tão forte que a Fabet vai abrir no ano que vem uma extensão em Mairinque, perto de São Paulo.
A Fabet fica em Concórdia (SC). É uma entidade sem fins lucrativos, pioneira no esforço para a profissionalização do transporte rodoviário de cargas. Conta até com uma Faculdade de Tecnologia no Transporte, a Fattep. Já o Programa Caminhão Escola treinou 3.400 profissionais em 13 anos.
O Programa tem dois cursos distintos. O Básico é para os que pretendem ingressar na profissão de caminhoneiro. Dura um mês. O aluno vê assuntos de desenvolvimento pessoal, saúde, redução de custos, legislação, mecânica, refrigeração, informática, rastreamento e avaliação veicular. A parte prática é feita com os 15 Scania da escola, cedidos em comodato pela montadora, e termina com uma viagem com um caminhão carregado em condições reais de uso, utilizando a estrutura da Coopercarga.
Já o PCE Avançado é um curso de aperfeiçoamento para quem já trabalha com caminhão e dura cinco dias (53 horas). O repórter Sérgio Caldeira, da Carga Pesada, portador de carteira de habilitação E, participou, em agosto, de uma turma.
O curso é dividido em módulos, sobre desenvolvimento pessoal e interpessoal, saúde, custos e legislação. O que mais impressionou Sérgio foi a eficácia do trabalho psicológico para mostrar ao aluno caminhoneiro a importância da sua profissão, aumentando sua auto-estima. Também se busca fazer com que ele aumente seu auto-controle e se conscientize da responsabilidade do seu trabalho.
Na parte prática, os alunos realizam um único trajeto duas vezes, antes e depois das aulas sobre direção econômica, e seu desempenho ao volante é alvo de uma análise detalhada. “Ao aplicar os conceitos de condução econômica, todos constatam a redução do custo de operação do caminhão e também do próprio desgaste físico do motorista”, informa Eloir Pramio, instrutor do Caminhão Escola. A coordenadora pedagógica do PCE, Silvia Carla Garcia, diz que os ganhos operacionais da condução econômica são, em média, de queda de 15% no consumo de combustível e aumento de 10% na vida útil dos pneus.
Técnica e valores humanos lado a lado
O repórter Sérgio Caldeira, da Carga Pesada, ficou muito satisfeito com o que aprendeu no PCE Avançado que fez na Fabet. Ele achou o treinamento “bastante eficiente, capaz de mudar os valores e acabar com vícios e atitudes inadequadas do motorista no trânsito e nas diversas fases da operação de transporte”. Como seus colegas de turma, ele também conheceu as vantagens da direção econômica.
“Nós tratamos não só da técnica, mas também dos valores humanos nos nossos cursos”, explicou a gerente de Extensão, Projetos e Parcerias da Fabet, Salete Argenton. “Nos baseamos no método de Paulo Freire para a educação de adultos, no qual se leva em consideração os valores e conhecimentos anteriores da pessoa para construir novos conceitos e proporcionar um conhecimento que tenha significado para sua vida pessoal e profissional.”
Entre os colegas de turma de Sérgio, estava Aparecido de Miranda, de Marechal Cândido Rondon (PR), caminhoneiro há quatro anos, que trabalha na Lamberti. “A empresa está exigindo o curso de todos os seus motoristas. É uma oportunidade para quem gosta de aprender sempre mais”, disse. Seu colega Sérgio de Oliveira Filho, de Foz do Iguaçu (PR), era o mais experiente da turma: 52 anos. Gostou muito do curso: “Aqui entendemos coisas que não se aprendem na estrada, por mais experiente que você seja”, declarou. Kleber Camargo, outro paranaense, de Ribeirão Claro, empregado da Transzape, achou que o curso da Fabet “serve para melhorar e valorizar a imagem do caminhoneiro perante a sociedade”.