Nelson Bortolin
O amor pelo caminhão falou mais alto para a catarinense Maria Celita Flaron, 39 anos, que mora em Curitiba. Há dois anos, ela decidiu mudar radicalmente de vida: deixou a atividade de enfermeira e foi procurar emprego de motorista de caminhão. Encontrou na Transpizzatto.
A Polacah, com esse “h” invocado no final, como é conhecida, aprendeu a dirigir com o ex-marido. “Nas férias do hospital, sempre ia viajar com ele.” Apaixonou-se pela direção. “Na enfermagem, o desgaste é mais emocional; na estrada, é mais físico”, afirma sobre a diferença entre os dois ofícios.
Polacah costuma ficar 15 dias seguidos fora de casa, fazendo rotas para São Paulo, Minas, Goiânia e o Nordeste. “Mas já fiz viagens de 27 dias”, afirma. Daí, a saudade aperta. Ela tem duas filhas – uma de 13, outra de 21 anos. Já a estrada oferece medo e solidão, mas também amizades. “Fiz muitas amigas caminhoneiras. A conversa entre nós é sempre a mesma: ficamos divididas entre a saudade dos filhos e o amor ao caminhão. É difícil ficar em casa com a estrada chamando.”
Na Transpizzatto, começou dirigindo trucks, mas há seis meses passou para a carreta frigorificada. “A primeira viagem sozinha foi um desespero. Saí de Curitiba para São Paulo com um Scania Highline. Chovia muito. Na carreta é mais fácil errar, porque ela é articulada”, disse.
Na primeira parada, Polacah já estava agradecendo a Deus por estar viva. “A gente tem de ter coragem para colocar 30 mil quilos em cima de um bicho tão grande e sair pelas estradas. Temos que ter certeza do que estamos fazendo.” Mulher de fé, toda vez que desliga o motor do caminhão, ela reza. Pede a Deus que a faça chegar em segurança ao destino, sem machucar ninguém.
Não é por ser caminhoneira que ela deixa a vaidade em casa. Leva junto maquiagem, perfumes, cremes. “Quando vou ao cliente, é com a camiseta da firma e calça. Mas, sempre que posso, eu capricho na roupa e no calçado.”
A falta de banheiros femininos nos clientes é um problema para ela. “Temos de usar os banheiros dos homens, que não são muito limpos.” Pior que isso, só o medo de assalto. “Com uma gorjeta, o guarda do posto fica de olho no nosso caminhão enquanto dormimos”, conta.
Questionada sobre preconceito, Polacah diz que foi muito bem recebida por todos os colegas na transportadora, onde só existe mais uma mulher motorista e 130 homens.
APOIO
Ao abraçar a nova profissão, Maria Celita teve o apoio das filhas. “A mais nova foi criada no caminhão do pai.” Seus pais também a apoiaram. “Sempre ficaram do meu lado. Minha mãe me manda mensagens todos os dias, pedindo a proteção de Deus.” Outro apoio importante foi do patrão, Rafael Pizzato. “Ele acreditou em mim. Acho que não se arrependeu, pois não fiz nenhuma besteira até hoje…”