Mãe e filha, Ilda e Lucélia tocam a Churrascaria da Celinha, na BR-040, perto de Belo Horizonte
Luciano Alves Pereira
O pai de Ilda nasceu em Ribeirão do Eixo, município de Itabirito, região central de Minas. Antônio Santana Marques, o ‘seu’ Totonho, não imaginava que no meio do seu lugarejo fosse passar a histórica BR-3, a primeira estrada asfaltada da Era JK, nos anos 50, ligando Belo Horizonte a Juiz de Fora e Rio de Janeiro. ‘Seu’ Totonho tinha uma venda e forneceu refeições à turma de 50 operários que chegou para construir o vizinho Viaduto das Almas.
Nisso Ilda se casou com Josué Correa da Silva, então motorista da Viação Santa Elisa. Finda a obra, a vida voltou ao normal, a venda voltou a ser só venda. Mas com a morte do pai, aos 72 anos, fez-se a vontade dele: Ilda, única mulher em nove filhos, herdou o negócio, com o apoio dos irmãos. Até então tinha sido apenas dona de casa.
Dos secos e molhados ao serviço de restaurante, foi um passo. “Os caminhoneiros do minério me pediam pra fazer um comer pra eles”, lembra Ilda. Nascia assim o Restaurante da Celinha (apelido da filha Lucélia), já na BR-040 (km 588), nome que substituiu a BR-3. Funcionava no porão, nos idos de 1990, com um cardápio saboroso: arroz, feijão, batata frita, ovo, carne cozida e farofa. Logo foi feita uma reforma e a aceitação ultrapassou as previsões.
Ilda agradece a fidelidade da clientela caminhonística. “Graças a essa turma, nunca peguei um centavo emprestado.” Sem hesitar, iniciou a construção de um novo prédio, um pouco acima, num terreno que já era da família. A coragem ganhou reforço da Celinha, que trabalha lá desde os 12 anos de idade. Para Ilda, “Celinha é danada, tem dom para o comércio”. Juntas, terminaram a, agora, Churrascaria da Celinha, com lanchonete separada, piso de granito, novos balcões, sanitários etc.
Celinha gosta do ramo e, no dizer da mãe, “adora fazer diferença, baratear; é muito atenciosa com os outros”. Enquanto Ilda faz planos para viajar um pouco – “Sou doida para conhecer o Rio Grande do Sul” – Celinha quer construir um local de eventos. Já comprou outro terreno vizinho. “Pode até ser um hotel.” Ela tinha medo de sonhar, mas depois deixou correr bambo: “Veja o tamanho que ficou a venda do vovô…”