Nelson Bortolin
Não é para qualquer uma. Imagine uma mulher pilotando um caminhão carregado aí pelas estradas a uma semana de dar à luz. É isso que pretende fazer a gaúcha Sheila Marchiori, 33 anos, cujo parto está previsto para o início de dezembro. E ela planeja voltar às estadas assim que terminar a licença-maternidade. O bebê – um menino que se chamará Bernardo – irá junto, diz ela.
“Para mim é tudo muito natural. Meu filho foi planejado para viver no caminhão. Vai crescer sabendo de onde vem seu sustento”, afirma Sheila. Funcionária da Bellaver, especializada em carga refrigerada com sede em Farroupilha (RS), a gaúcha já sonha com uma cadeirinha para o bebê, instalada com segurança na cabine do novo caminhão que a empresa lhe prometeu. “Vai ficar aqui, do meu lado.” revista-carga-pesada-edição 186
Mãe de três adolescentes, ela não se assusta com a primeira gravidez que vive dentro da boleia. “Já sei o que é ser mãe. E pretendo viajar até a médica me avisar que a cesárea será na semana seguinte”.
afirma.
Sheila nunca enfrentou problemas mecânicos na estrada, mas já andou com carretas refrigeradas antigas que costumavam quebrar. “Aí, tu vai lá, abre e resolve com alicate e um rolo de arame. Os equipamentos mais antigos são mais fáceis de consertar”, minimiza. Normalmente, a gaúcha faz rotas do Sul para o Sudeste. Diz que está “no paraíso”, porque consegue ir sempre para casa. “Isso traz qualidade de vida.”
Sheila Marchiori mora em Lagoa Vermelha (RS) e diz não sentir preconceito pelo fato de ser mulher. “Tive um pouco de dificuldade para entrar na profissão por falta de experiência e porque tinha três filhos pequenos. Mas depois não houve mais problemas. Fiquei conhecida. Sou muito querida pelos clientes e pelos colegas.” Para a gaúcha, não há segredos: “Quem chega tratando bem, sempre será bem tratado”.
A caminhoneira conta por que gostou da lei que exige exame toxicológico para os motoristas profissionais, que entrou em vigor em março. “Tem muito drogado aí atrás de um volante. É claro que não é só de caminhão, é de carro pequeno também. Eu sou totalmente contra qualquer tipo de vício pela criação que eu tive”, dispara. E aconselha: “Para quem não pretende usar drogas, esta é a hora de entrar na nossa profissão. Estão sobrando vagas.”
Pessimismo é uma palavra que não existe no dicionário de Sheila Marchiori. “O Brasil tem problemas sim, mas não gosto de falar deles”. Para ela, a receita do seu sucesso é muito simples: “Não gosto de pessoas negativas. Encaro a vida de outra forma. Assim as coisas ficam mais fáceis para mim”.