Troca de notas fiscais ao longo da viagem sempre houve no transporte de grãos. O diretor executivo da Associação dos Transportadores de Carga de Mato Grosso (ATC), Miguel Mendes, diz que é normal a primeira troca. “O caminhoneiro sai da fazenda com a nota do produtor e tem de trocar na trading”, afirma. E em algumas situações existe uma cooperativa entre o agricultor e a trading, o que obriga a fazer mais uma troca de notas.
O que há de novo nesta safra, segundo Mendes, é que, devido ao agendamento, as tradings muitas vezes mandam os caminhoneiros de um escritório a outro “para ganhar tempo”. “É aquela história de fazer do caminhão um armazém sobre rodas”, declara.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas dos Transportes Terrestres de Rondonópolis e Região, Luiz Gonçalves da Costa, diz que as manobras das tradings com as trocas de notas transmitem a “falsa ideia” de que o sistema de agendamento de descargas é eficiente. “Não para o transportador”. E explica: “O motorista recebe a carga do produtor e, ao chegar à trading, tem que trocar a nota fiscal. Só então é feito o agendamento, que leva em consideração a viagem que será feita da trading até o terminal intermodal ou ao porto. Mas a viagem não começou na trading, e sim no campo. É nessa divisão da viagem em duas ou mais partes que as tradings tomam o tempo do motorista”. Para ele, o sistema “é uma fraude”.
A Carga Pesada questionou a entidade que representa as tradings, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC), a respeito do assunto, mas não obteve retorno.