Antes era só São Paulo. Agora, outras grandes cidades criam restrições ao tráfego de caminhões nas ruas com cada vez mais carros. Os transportadores protestam

Nelson Bortolin

São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Curitiba. Diante do aumento da circulação de automóveis e da ineficiência do transporte coletivo, as maiores cidades brasileiras estão apertando o cerco contra os caminhões. Em São Paulo, as restrições ao tráfego de caminhões vêm dos anos 90. Em Salvador, começaram há um ano; Porto Alegre e Curitiba acabam de entrar na onda.

Desde o dia 2 de junho, veículos com mais de sete metros e capacidade de carga acima de 10 toneladas não podem entrar no centro histórico de Porto Alegre. A prefeitura queria mais – em todo o centro da cidade –, mas comerciantes e transportadores conseguiram “dobrar” as autoridades.

Para o presidente do sindicato das empresas de transporte gaúcho, José Carlos Silvano, esse tipo de solução é injusta. “A prefeitura deveria investir nas vias urbanas e no transporte público, em vez de restringir os caminhões.”

O presidente do sindicato dos lojistas de Porto Alegre (Sindlojas), Ronaldo Sielichow, acredita que a solução negociada está de bom tamanho. “O projeto original deixaria o centro da cidade desabastecido.”

Em São Paulo, a situação é grave. O sindicato das empresas de transporte (Sectesp) entrou na Justiça contra a recente decisão da prefeitura de proibir caminhões na Marginal Pinheiros, Avenida Bandeirantes e em algumas ruas do Morumbi. Isso inviabilizou o abastecimento da região de Santo Amaro, segundo o sindicato.

“Para chegar a Santo Amaro, os caminhões começaram a passar por Taboão da Serra e Diadema, mas esses municípios também estão proibindo o tráfego”, conta Adauto Bentivegna Filho, do Setcesp.

Ele ressalta que abastecer Santo Amaro com os pequenos VUCs (Veículos Urbanos de Carga) é impossível, pois a região possui muitas fábricas e a demanda por matéria-prima é grande.

Os VUCs começaram a ser fabricados no Brasil devido às primeiras restrições aos caminhões em São Paulo. De início, a área só para VUCs era de 11 quilômetros quadrados. Cresceu para 24 em 2007 e chegou, em 2008, aos 100 quilômetros quadrados atuais, lembra Adauto.

A prefeitura paulistana chegou a proibir os VUCs durante o dia nessa enorme região, mas recuou e autorizou também o período das 10 às 16 horas, o que é insuficiente, segundo o Setcesp.

Em Curitiba, a primeira restrição a caminhões começa em julho: não poderão circular na Linha Verde, por onde a BR-116 cortava a capital paranaense. O sindicato das transportadoras do Paraná tenta fazer a prefeitura voltar atrás.

Em Salvador, um decreto municipal proíbe a circulação de caminhões em vários horários na área urbana, e aos sábados, domingos e feriados, na orla do mar. A decisão da prefeitura também está sendo discutida pelos transportadores na Justiça.