Nelson Bortolin
Em quatro anos, a vida do caminhoneiro Fernando Pitanga, de Salvador, mudou muito. Ele deixou de ser empregado, abriu uma microempresa, comprou um caminhão seminovo e, antes mesmo de terminar de pagá-lo, trocou-o por um novo. Com 39 anos, casado com Monaliza e pai de três filhos, o baiano Pitanga pretende, até o fim do ano, comprar mais um caminhão e contratar um colega para dirigi-lo. Ele sonha alto: quer ser frotista.
Contando assim, parece que é fácil “subir na vida”. Mas não é. Para dar esse salto profissional em tão pouco tempo, Pitanga deu (e dá) seus pulos. Mas não reclama. “Eu procuro fazer a minha marca e minha marca é a qualidade”, afirma.
Em 2010, ele estava desempregado. Mesmo assim, resolveu inscrever-se na etapa regional de Salvador do concurso Melhor Motorista de Caminhão do Brasil, da Scania. Concorreu com 28 mil caminhoneiros de todo o País. Venceu a etapa da Bahia e classificou-se para a final em São Paulo. Quem conhece o concurso sabe que não é fácil ganhar. São várias provas teóricas sobre direção segura e econômica e prova difícil de habilidade ao volante. Mas Pitanga foi o campeão.
Na mesma época, Pitanga conseguiu emprego na Henrique Stefani, transportadora de líquidos com sede em Canoas (RS), onde havia feito ficha. Pouco mais de um ano depois, decidiu dar o passo: pediu apoio à transportadora para tornar-se agregado. Sabia que precisaria, também, do apoio da Scania.
“Eu nunca tinha tentado comprar um caminhão, mas acho que não conseguiria sem a ajuda do Scania Banco”, diz ele. O banco aceitou um pré-contrato de agregado com a Henrique Stefani como garantia. E aprovou a compra de um R420 Highline, ano 2008, pelo Procaminhoneiro, em 60 vezes. Pitanga está certo. O Procaminhoneiro, programa do BNDES com juros baixos para financiar caminhões a autônomos e microempresas, tem contemplado muito menos gente do que poderia, em seus oito anos de existência (veja na pág. 18).
O baiano reconhece que o fato de ter vencido o concurso da Scania abriu portas em sua vida. O caminhão custava R$ 250 mil e ele não tinha dinheiro para os 10% da entrada. A concessionária Movesa, em Salvador, parcelou os R$ 25 mil em seis vezes. “Trabalhei os seis meses da carência para pagar a entrada, e daí em diante fui pagando o financiamento”, conta.
Aqueles seis meses demoraram a passar. Pitanga estima que, dos R$ 30 mil por mês que faturava no transporte de produtos químicos entre São Paulo e o Nordeste, só lhe sobravam R$ 10 mil – e a prestação comia R$ 6,2 mil. “Sobrevivi com sacrifício, o orçamento da família ficou apertado”, lembra.
Com sacrifício, mas sem fazer loucuras. A Henrique Stefani proíbe os agregados de rodarem das 22 horas às 6 horas da manhã. E ele diz que para mais cedo porque, do contrário, não encontra vaga nos postos de combustíveis para dormir. “Eu sempre lutei contra as jornadas muito longas”, ressalta.
O motorista baiano é um otimista que não se queixa da vida. Ainda mais agora que trocou o caminhão 2008 por um R440, Highline, teto alto, duas camas, novo. Ele vendeu o antigo por R$ 220 mil e o novo custou R$ 387 mil. As prestações continuam salgadas: R$ 6.800. Mas o faturamento melhorou: chega a R$ 50 mil por mês. Sobram para ele de R$ 11 mil a R$ 15 mil. “O caminhão é mais confortável e rende mais”, explica.
Pitanga prefere se apertar a ser pego desprevenido: mantém um contrato de manutenção de R$ 420 por mês. “Trabalhei em muitas empresas. Algumas não se preocupavam com manutenção, e eu sei o resultado disso. Quero ser como as boas empresas”, declara.
Ele também faz uma poupança para fugir de imprevistos. “Hoje, se eu tombar o caminhão, o seguro reembolsa, mas vai demorar 30 dias. Nesse tempo, não vou ganhar nada e minha vida poderia dar uma balançada”, explica. A preocupação é maior porque, no final do ano, ele vai comprar outro caminhão e empregar um colega.