Um grupo de revendedores da Ipiranga foi aos Estados Unidos visitar alguns postos de combustíveis da região de Chicago, entre eles o Iowa 80 (ao lado), considerado o maior do mundo. Foram ver se o que é bom para os norte-americanos é bom para os brasileiros…

Luciano Alves Pereira

Para o fiel cumprimento da lei que regulamentou a profissão de motorista de cargas e passageiros, será preciso criar muitas vagas de estacionamento para caminhões nas estradas, para que os motoristas possam descansar. O governo fugiu desse tema, ao aprovar a lei, mas a questão continua aberta. É possível, no entanto, que os donos de postos estradeiros se interessem pelo negócio.

Talvez pensando nisso, a petroleira Ipiranga tomou a iniciativa de levar um grupo de 30 revendedores para conhecer postos de estrada nos EUA, em abril. O destino foi Chicago, de onde foi possível visitar, entre outros, o Posto Iowa 80, a cerca de 300 km de lá. Ele fica na interestadual I-80, uma troncal que liga Nova York a San Francisco. Na realidade, o Iowa 80 é um truckstop (parada de caminhões) privado, que iniciou atividades em 1964, na localidade de Walcott, Estado de Iowa.

A loja de acessórios do Iowa-80: tudo para o caminhão e para os olhos

Na comitiva estava o mineiro Wagner Henriques Xavier, proprietário do Posto Profetas, que fica no km 614,6 da BR-040, município de Congonhas (MG). Segundo ele, o Iowa 80 é tido como o maior posto do mundo. Seus números são gigantescos. O empreendimento ocupa 340 mil metros quadrados, equivalente a 34 campos de futebol, é capaz de acolher 3.500 carretas clássicas americanas (cavalo 6×4 + semirreboque de dois eixos), além de 1.500 automóveis. “É grande desse jeito porque fica numa região sujeita a nevascas, que impedem muitos caminhões a continuar viagem”, diz Xavier. A receita do posto provém da venda de mais de 8 milhões de litros de combustíveis por mês, sendo mais de 80% relativos ao diesel, além de um mega-truckcenter. “Ali o caminhoneiro pode resolver todas as suas necessidades, seja para o caminhão ou para si.” Com a ressalva de que “tudo é pago”. A loja de peças, acessórios e pneus tem quatro mil metros quadrados de galpão e dispõe de equipe de mecânicos e instaladores. Na pista há um lavador de caminhão, do tipo lava-jato, que cobra US$ 80 por hora. Utiliza-se de água reciclada e o serviço só por fora leva 20 minutos.

O posto tem balança rodoviária e guincho pesado para resgate externo. Nada é de graça, mas, se o caminhoneiro precisar de médico ou dentista, sempre tem um de plantão. Lavanderia, padaria, salas de cinema e TV, barbeiro e banho (este a 11 dólares). No restaurante há fartura – e ofertas bem ao gosto dos americanos. Por exemplo, um hambúrguer de 2 kg a 22 dólares. Leva 1,2 kg de carne bovina, mas, se o freguês conseguir comer um inteiro, não paga nada. Como fecho de ouro, o posto conta com um museu de bom acervo dedicado ao mundo caminhonístico, onde o profissional jovem, por exemplo, pode verificar como foram difíceis os tempos pioneiros da vida na estrada.

Wagner Xavier: “Tudo nos postos americanos é pago”

Wagner Xavier se surpreendeu com a agilidade de determinados serviços, como o abastecimento dos caminhões, embora o posto não tenha frentistas. “É tudo muito rápido. O estradeiro passa o cartão num display junto ao abastecimento de diesel e libera o bico, que tem um rabicho chamado bico-escravo. Assim, ele enche os dois tanques ao mesmo tempo, confere o nível de óleo do motor e passa no para-brisa um rodo com um produto especial, que remove os mosquitos sem escorrer nem corroer a pintura. Tudo isso em incríveis 10 minutos”, diz o empresário, lamentando que um atendimento desses, no Brasil, leve, em média, 40 minutos, “por causa da burocracia dos cheques e cartões”.

Xavier gostou do que viu. Em sua opinião, “muita coisa pode ser trazida para os postos estradeiros daqui, especialmente agora que os caminhoneiros terão de se adequar aos seus tempos de volante”. O que mais o encantou foi a concentração do Iowa 80. “Todos os serviços e atendimento num mesmo local, abrangendo o veículo e seu condutor.” Se o Brasil poderá entrar numa era assim, não se sabe. Ainda mais com “tudo pago”. Porque numa coisa estamos longe do padrão americano: os motoristas lá ganham uns cinco mil dólares por mês – algo em torno de R$ 10 mil.