A filha de Pedro Trucão é repórter, trabalha com o pai e diz que caminhoneiro tem que dirigir bem para ser bem-visto: “Caso contrário, é que nem médico que receita o remédio errado”
Nelson Bortolin
Paula Vazarine Lopes bem que tentou seguir caminhos diferentes do pai. Estudou marketing e chegou a trabalhar numa multinacional. Mas a estrada a chamou. Há quatro anos, ela entrou na faculdade de jornalismo e hoje, antes mesmo de se formar, já é a Paula Toco, repórter do Programa Pé na Estrada, comandado por Pedro Trucão – seu pai.
A primeira vez que saiu sem o pai para fazer reportagem nas estradas foi em 2009. O assunto era o rebite. No início, Paula pensou que seria difícil realizar o trabalho, pelo fato de ser mulher. “Achei que não iam me respeitar. Mas aconteceu o contrário: os caminhoneiros é que tomam cuidado para não parecerem desrespeitosos comigo”, conta.
Na faculdade, o trabalho de conclusão de curso que ela está fazendo trata dos maiores problemas do transporte rodoviário de carga. “Estou verificando o impacto que a falta de motorista tem na economia, na sobrecarga de trabalho dos profissionais e nos riscos de acidentes”, explica.
Ela já tirou algumas conclusões sobre as causas da escassez de mão de obra estradeira. “Antigamente, era mais fácil entrar na profissão e até mesmo comprar caminhão. E era difícil de sair, porque geralmente o caminhoneiro não sabia fazer outra coisa e não tinha estudo.” Hoje é o contrário. “É muito mais difícil de entrar porque o preço do caminhão subiu muito, as empresas exigem capacitação, não dão emprego para quem não tem experiência. E é mais fácil arrumar outro trabalho em setores da economia que pagam o mesmo salário.”
Paula Toco acredita que a profissão tem de ser mais valorizada pela sociedade. Mas o motorista também precisa se dar valor. “Na estrada, é ele o profissional e tem de dar exemplo. O caminhoneiro muitas vezes é visto com maus olhos pela forma que conduz o veículo.”
E termina com esta comparação: “O médico não pode dar o remédio errado para o paciente. O motorista também não pode errar ao volante. Esse é o jeito de fazer a sociedade mudar a visão sobre ele”.