Luciano Alves Pereira
Faz tempo o mineiro José Natan defende a necessidade de se espalharem quebra-molas pela descida crítica do Anel Rodoviário de Belo Horizonte. Isto entre o alto da serra (Olhos d’Água) e o trevo do bairro Betânia. Ele é presidente do SUBC (Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros) e a seu ver, radar, pardal, lombada eletrônica “não param motorista de caminhão desembestado”. Para muitos, é uma afirmativa meio lá meio cá, da qual se sabem de inúmeros adeptos. Os mais recentes apareceram no final de janeiro, na Rio-Bahia (BR-116), km 586, na região do Vale do Rio Doce (leste de Minas).
O quebra-molas hoje tem história. Surgiu no Brasil há cerca de 30 anos e sequer pegou um nome definitivo. Pode ser lombada, obstáculo se for convexo. No formado côncavo, virou valeta, depressão. Foi deste jeito que apareceu na cidade de San Juan de Porto Rico (costa leste do EUA), por volta de 1950 e tinha,
Capítulo recente desse conflito pôde ser visto no finalzinho de janeiro, no distrito de Vilanova, município de Manhuaçu, cidade bem situada junto ao cruzamento da BR-116, com a transversal mineira BR-262, A comunidade de 7 mil moradores fica a beira-via e contava com duas lombadas, plantadas desde 1996, conforme relata o Portal Caparaó local. Para incrementar a eficiência da rodovia, o DNIT, de Caratinga (MG), iniciou a substituição das elevações por radares eletrônicos fixos. A população, no entanto, não gostou. Ela se mobilizou e paralisou a BR por sete horas, causando detestável congestionamento de 15 quilômetros nos dois sentidos, relata o referido Portal. Os vilanovenses não querem a retirada dos quebra-molas. Muito menos sua substituição por radares. Adilson Dias da Silva, um dos líderes do movimento, afirmou que “infelizmente, a maioria dos motoristas não respeita a sinalização de trânsito e a velocidade máxima, estipulada pelo DNIT (60 km/h) é alta”. Assim, seu objetivo é que os obstáculos físicos sejam mantidos: “Só eles obrigam os condutores a reduzirem ainda mais a velocidade”, insistiu.
PROSAICO − Em resumo, diante da disposição dos protestantes, os redutores de pista ficaram e até a parte já removida foi reconstruída por conta do próprio pessoal da comunidade. Vitória para o ponto de vista de José Natan. Em parte. Quando Adilson, de Vilanova, pretende que o fluxo à sua porta caia a menos de 60 km/h, na realidade ficará menor que 10 km/h. As saliências esparramadas pela pista, também chamadas de ondulações transversais pelo extinto DNER, medem mais de 25 cm de altura, quando deveriam ter 10 cm por 3,60 de extensão. Esta foi a proposta bem pensada e constante do INURB (programa de Interfaces Rodoviário-Urbanas), criação oportuna do saudoso Geipot, rabicho só de planejamento do ministério dos Transportes. Todo seu acervo de talentos e trabalhos foi jogado no desmanche pela figura prosaica de José Sarney, pouco antes de 1990.
Os murundus da Vilanova rio-bahiana, de fato, vão continuar parando o tráfego nos dois sentidos, como desde 1996. Mas está longe de ser o remédio capaz de curar. Seu efeito secundário aparece em forma de mais insegurança na pista. Não apenas na eficiência da via como também em aumento da vulnerabilidade dos caminhões e cargas. ‘Tranqueira transversal’ igual existe no km 650 da BR-040, na travessia mal enjambrada de Cristiano Otoni (MG). O trecho ficou conhecido como ponto de abordagem dos ladrões de carretas pelas madrugadas de quase nenhum movimento. Quando o veículo para sobre os quebra-molas, o meliante joga uma âncora pontuda em cima do teto do baú. Amarrada vai uma corda e por ali ele sobe à porta traseira, arrebenta-lhe a trava e passa a jogar o que puder pela pista afora. Seu comparsa, de carro recolhe o fruto da operação.