Por meio da assessoria de imprensa, a PRF informou à Carga Pesada que “a configuração em questão não é reconhecida”. Mesmo assim, sustenta que a norma técnica permanece em vigor e que a fiscalização continuará suspensa “até que o órgão máximo normativo e consultivo de trânsito emita manifestação conclusiva sobre o tema”.
Também pela assessoria de imprensa, o Contran afirmou que a configuração “não é contemplada” pelas suas regulamentações e tampouco pela portaria 63/2009, cujo anexo tem todos os desenhos de combinações permitidas no País. Mais: segundo o Contran, pela resolução 373/11 é necessário haver tração 6×4 para qualquer veículo com PBTC igual ou maior que 57 toneladas.
Questionada sobre a liminar e por que os Detrans emitem os documentos da carreta, se ela é considerada ilegal. A resposta veio cheia de evasivas: Sobre a liminar, o órgão respondeu: “A competência para se manifestar sobre processos judiciais é da AGU (Advocacia Geral da União)”. Quanto ao motivo da expedição de documentos de veículos tidos como irregulares, a assessoria disse que a pergunta deveria ser feita aos Detrans. Acontece que os certificados de segurança veicular (CSV) são emitidos pelo Denatran. Sem os CSVs, os Detrans não liberariam as carretas.
Vale ressaltar que o Dnit autoriza carretas de quatro e até seis eixos para o transporte de cargas indivisíveis, mas não de carga comum.
Neuto Gonçalves dos Reis, diretor Técnico Executivo da NTC&Logística e membro da Câmara Temática de Assuntos Veiculares do Contran, foi curto e grosso quando falou com a Carga Pesada sobre a carreta de quatro eixos: “É ilegal”. E completou: “Ela é curtinha. Concentra muita carga nas pontes. Tem uma série de problemas. Aqui no Brasil fazem tudo errado para forçar a legalização depois”.
Além disso, afirmou que a transformação dessas carretas não traz vantagem nenhuma para o transporte de carga. Pelo contrário: “Quanto mais carga leva, menor o frete por tonelada”.
O superintendente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Maringá (Setcamar) e coordenador da Câmara do Agronegócio da NTC&Logística, Geasi Oliveira de Souza, diz o mesmo: “Quanto mais carga colocamos nos nossos veículos, mais desvalorizado fica o frete. E isso só piora a situação num momento em que estão sobrando caminhões no mercado”. Para ele, não é “inventando novos implementos” que o setor irá superar a crise.
FALA CAMINHONEIRO (veja o que pensam os caminhoneiros sobre a carreta de 4 eixos)
“Tem de trabalhar no frete certo, e não fazer o caminhão virar um trem cheio de vagões trabalhando barato. Esses grupos – JBS, Minerva, grandes usinas – estão cada vez mais ricos e não repassam nada para o frete.” Edmilson Borges, Barretos (SP)
“Eu sou a favor. Não existe nada que impossibilite a carreta de quatro eixos, é uma evolução natural. Já dirigi caminhão Volvo com quatro eixos, por que não pode haver carreta?” Diógenes de França, Rio de Janeiro (RJ)
“Os bobineiros estão usando algo parecido. Já vi rodotrem com 10 eixos saindo do Porto de São Francisco, em Santa Catarina. Enquanto o Brasil não investi r pesado em ferrovias, os empresários conti nuarão a inventar meios de embarcar mais peso sobre os caminhões.” Evandro Stopassole, Joinville (SC)
“Eu sou contra. Hoje não cabe mais o transportador pensar em se dar bem e acabar com o piso asfálti co. Chega de tantas alterações enfi adas goela abaixo nos órgãos governamentais. Já temos em uso os mais diversos modelos regulamentados. A polícia rodoviária deve coibir esses abusos”. Jorge Olegário, Caruaru (PE)