Nelson Bortolin
O novo pacote de concessão de rodovias anunciado na sexta-feira (31) pela presidente Dilma Rousseff foi bem recebido por representantes de produtores e transportadores de grãos. Dos cinco trechos anunciados, três visam atender o escoamento das commodities agrícolas. No total, serão concedidos 2.625 quilômetros, sendo que 2.282 quilômetros deverão ser duplicados. Os investimentos previstos são da ordem de R$ 17,8 bilhões.
Um dos trechos mais importantes é o de 976 quilômetros, que envolve as BRs 163 e 230, entre Sinop (MT) e o Porto de Miritituba, em Itaituba, no Pará. Ele deverá ser duplicado em 5 anos após a concessão. Mesmo ainda faltando 180 quilômetros de asfalto, o trecho já será responsável neste ano pelo escoamento de 3 milhões de toneladas de soja. Por enquanto, em Miritituba (Rio Tapajós) só funciona um único terminal hidroviário, o da Bunge. Mas, no projeto do governo, serão 10.
“É uma estrada que já nasce saturada”, afirma o coordenador do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz Ferreira. Segundo ele, a tendência é de que a quantidade de grãos que subirá para o Pará dobre a cada ano. “Em três anos, devemos ter 12 milhões de toneladas indo para Miritituba e Santarém”, declara.
Segundo ele, ganhos de produtividade que a nova rota da soja irá trazer, vão compensar o pedágio a ser pago. “Hoje, para levar a soja de Sorriso (MT) a Paranaguá são 2.100 quilômetros rodoviários. Para Miritituba, são 1.000 quilômetros rodoviários, mais 1.000 quilômetros no rio até Vila do Conde (porto marítimo perto de Belém)”, conta. De acordo com Ferreira, levar a soja para o Norte custará até 34% mais barato que carregá-la até Paranaguá.
O governo anunciou que deverá fazer os leilões no segundo semestre, mas o coordenador do Pró-Logística acredita que eles sairão em 2015.
Para Santo Nicolau Bissoni, sócio diretor da Transportadora Botuverá, com sede em Rondonópolis, a concessão será benéfica para os transportadores porque os custos de manutenção dos caminhões hoje estão muito altos. “Vejo (o anúncio da presidente) como positivo. Se andarmos em rodovias bem asfaltadas, bem sinalizadas, teremos um rendimento melhor, menos desgaste. Acho que essa economia compensa o custo do pedágio”, afirma.
Apesar disso, ele acredita que, devido à alta carga tributária paga pelos brasileiros, as estradas deveriam ser mantidas em boas condições sem que os usuários precisassem pagar pedágio. “A sociedade brasileira já paga muito imposto e o pedágio não deixa de ser um novo imposto”, critica.
Para o diretor executivo da Associação dos Transportadores de Mato Grosso (ATC), Miguel Mendes, o pedágio é um “mal necessário”. “O governo é incompetente para construir e dar manutenção em rodovias. Aqui em Mato Grosso nós sofremos muito com isso. Temos o principal corredor de escoamento da safra em condições absolutamente precárias, com índices de acidentes crescendo a cada ano”, ressalta.
De acordo com ele, as concessões resultarão em economia para todos. “O custo do pedágio é compensado pelo ganho em tempo de viagem e em manutenção dos veículos. No frigir dos ovos, teremos ganhos”, declara.