A chegada do freio a tambor nos modelos Axor e Actros, atendendo ao pedido de clientes, mostra uma nova forma de atuação da Mercedes-Benz no Brasil: “as estradas falam e a Mercedes-Benz escuta”. Este é o resumo da filosofia de trabalho que deve prevalecer na montadora alemã na visão do novo vice-presidente de vendas e marketing Roberto Leoncini, que atuou por 26 anos na concorrente sueca, Scania.
Ele está há pouco mais de três meses no cargo e disse, durante o evento Econfort Experience, em Rondonópolis (sexta, 17), que tem ocupado mais da metade do seu tempo em contato com a área de serviços e a rede de concessionários, representada pela Assobens: “A ideia é escutar o cliente, entender as necessidades, voltar para a fábrica e fazer a lição de casa, isso se a gente quiser ser novamente um jogador de peso em segmentos como o agronegócio”, explicou.
Como vem de uma montadora focada nos pesados, Leoncini diz que também tem a missão pessoal de aprender mais sobre os segmentos de leves e médios, já que a nova casa fabrica caminhões de ponta a ponta: “meu objetivo é fazer com que a Mercedes-Benz venda mais caminhões, mais ônibus e mais serviços. Para isso será preciso ficar mais fora de casa em contato com clientes e concessionários, como também gosta de atuar o presidente Philipp Schiemer. Este é o principal recado que queremos passar ao mercado”.
Outra mudança que Leoncini pretende implementar é na localização das 186 concessionárias que, em muitos casos, estão mal situadas para atender algumas aplicações: “Temos novas rotas de transportes para estados como o Pará, por exemplo. Nossa intenção é estar mais presentes seja com postos de serviços, dentro da transportadora, usando oficinas em containers, o que for, para estar mais próximos do cliente”, explicou.
Sobre a retomada da liderança de mercado, Leoncini diz: “estamos cheirando a traseira do primeiro e vamos passar à frente em breve”. Mas ressalva: “ market share não paga o almoço e a janta, precisamos também de rentabilidade”. E ainda, que este tem que ser um esforço conjunto com a rede: “eu, claro, não vou conseguir isso sozinho. Temos todas as condições mas não podemos subestimar a capacidade de reação dos concorrentes”, pondera
Sobre o agronegócio ele lembra que a Mercedes-Benz já liderou o segmento: “ Fui o vilão na época, roubando esta liderança. Agora tenho que tomar de novo e temos produto para isso. Só precisamos abrir oportunidades de demonstração das novas qualidades de modelos como o Axor, que ainda não é reconhecido pelo que pode entregar. Este é o objetivo de eventos como este”.
Sobre o Actros, modelo premium da marca, o novo vice-presidente adianta que ele poderá ser 100% financiado pelo Finame a partir de janeiro.
MOTORISTAS – Leoncini destacou o que considera ser o ponto forte da marca Mercedes-Benz: a capacidade da engenharia. “O grupo Daimler tem várias grandes marcas no mundo o que resulta num somatório de experiências no campo da engenharia. Este foi um fator decisivo para minha decisão de mudar de casa. Além disso, já tinha feito o que tinha que fazer onde estava. Fiz 50 anos e não queria me acomodar, entrar na zona de conforto. Agora queremos trazer a Mercedes-Benz de volta à posição que tinha no mercado brasileiro. Hoje acordo todo dia e só vejo grandes oportunidades de trabalho”.
Um destes desafios é melhorar outros produtos: “Nosso diretor de engenharia também está aqui em Rondonópolis, na estrada, vendo as operações de perto. Por exemplo, nos semipesados estamos muito bem com o Atego mas precisamos ter um 8×2 de fábrica. Nos leves, temos que melhorar a cabine para dar mais conforto ao motorista”, reconhece. Aliás, o foco é total no caminhoneiro: “hoje temos que ter mais atenção com o motorista que com o empresário, precisamos levantar esta profissão”, opinou.
JUIZ DE FORA – “Vamos trazer a produção do Accelo de volta para São Bernardo do Campo e transferir toda montagem de cabines para Juiz de Fora, onde está a melhor cabine de pintura do Grupo Daimler”, explicou Leoncini sobre as mudanças que acontecerão na planta mineira da montadora.
Segundo ele, o que mudará será a logística: “antes, o que andava era o caminhão, hoje serão as cabines”. Mas o Actros continuará sendo produzido em Minas Gerais (saiba mais CLICANDO AQUI). Sobre os custos de produção em São Bernardo do Campo, na sua opiniao hoje é mais barato produzir em algum país da Europa e trazer para o Brasil. Por isso ele defende que, mais importante que reajustar salários acima da inflação, é garantir a manutenção de empregos. “Pela primeira vez conseguimos uma negociação com os sindicatos nestes termos: abrimos os números e não vamos repassar a inflação, tudo pela manutenção dos empregos”.
Para este ano, sua projeção de venda de caminhões é de 128 a 130 mil unidades. “Não podemos esquecer que o Finame simplificado termina em 21 de novembro. Mas já tem banco dizendo que só vai operar só até o dia 3 em função dos problemas do ano passado quando o BNDES fechou o guichê para financiamentos justamente nesta época, em plena Fenatran. Se isso acontecer realmente, haverá uma queda monumental das vendas em dezembro já que, no sistema convencional, o BNDES não tem pessoal suficiente para atender a demanda” .
De qualquer forma, 130 mil unidades ainda é um ótimo número para o mercado brasileiro que, a seu ver, tem potencial para produzir 200 mil caminhões por ano: “Mas para isso será preciso um programa nacional de renovação de frota”, finalizou.