Fonte: Folha de S. Paulo
No ano seguinte à implementação da restrição de caminhões na marginal Pinheiros, ocorrida em setembro de 2010, o trânsito da via mudou pouco. Na média, os congestionamentos até aumentaram no rush da manhã. No da tarde, houve só ligeira melhora.
É o que mostra levantamento feito pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) a pedido da Folha.
Desde o dia 5 de março deste ano, a gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD) também restringiu a circulação de caminhões na marginal Tietê sob o argumento de que a medida vai melhorar o trânsito.
Até o momento, não houve balanço oficial da CET sobre melhora ou piora dos congestionamentos na Tietê.
PERCEPÇÃO
Os números obtidos pela Folha sobre os congestionamentos na marginal Pinheiros confirmam percepção de taxistas que trabalham na região. “No começo deu uma aliviada, mas depois o trânsito aumentou de novo”, diz José Moura de Santana, 31, taxista há cinco anos no Brooklin.
“Agora está pior. Tira um caminhão e entram seis carros pequenos no lugar”, diz Vitor Vieira Pinto, 52, taxista há 20 anos no Morumbi.
Essa é justamente a explicação dada por quatro especialistas ouvidos pela Folha : vias que antes eram evitadas pelos motoristas por causa dos congestionamentos acabam ocupadas toda vez que surge um alívio temporário.
“O problema vai se repetir na marginal Tietê”, afirmou Ulysses Carraro, integrante da comissão de trânsito da Associação Nacional dos Transportes Públicos.
Segundo ele, uma melhora inicial ocorre porque, sem caminhões, uma via tem menos chance de ter acidentes.
Até agora, foram aplicadas 138.300 multas a caminhões que desrespeitaram a restrição na marginal Pinheiros.
Na avenida dos Bandeirantes, onde a restrição a caminhões começou juntamente com a da marginal Pinheiros, o trânsito no pico da manhã se manteve praticamente estável no ano seguinte à medida. À tarde, porém, houve uma melhora significativa.
Juntando as médias da marginal Pinheiros e da avenida dos Bandeirantes, a média de congestionamentos no período de pico da tarde teve melhora de 19%. Já no rush da manhã a piora ficou em 5,8%.
PARCIAIS
A CET também dispõe de médias de trânsito no período que vai de setembro do ano passado a março deste ano. A própria companhia de tráfego, no entanto, só usa períodos iguais para fazer comparações de trânsito -isso porque a comparação de médias de anos inteiros com a média obtida em um semestre pode acabar distorcida por causa da sazonalidade.
Motoristas não percebem melhoria porque limitar tráfego é medida paliativa
As grandes metrópoles como São Paulo vivem em busca permanente de soluções para o grande problema do trânsito devido ao aumento desproporcional do número de veículos em circulação.
Com a restrição de caminhões, mais recentemente na marginal Tietê e já há algum tempo na Pinheiros, a capital tenta desonerar as referidas vias dos extensos trechos de lentidão causados pela baixa velocidade e excessivo volume desse tipo de veículo.
A restrição de horário para circulação faz com que os veículos que necessitem trafegar pelas vias afetadas fiquem de certa forma represados em áreas anteriores à espera do horário permitido para circular. A medida, portanto, não reduz o volume de veículos que circulam pelas vias, apenas tenta distribuí-los no decorrer do dia.
Porém, essa distribuição pode causar efeito contrário: levar o período de lentidão também para os horários permitidos e não reduzir o mal nos horários restritos.
Isso ocorre porque ao perceberem que a via está livre dos veículos pesados, os condutores dos veículos menores passam a usá-la em maior quantidade, sobrecarregando seu volume em substituição aos caminhões ausentes.
A partir do momento em que os caminhões têm permissão para circular, somam-se aos veículos menores que já ocupavam praticamente toda a via. Assim, com a soma dos caminhões que ficaram represados aos veículos que ocuparam seu espaço nos horários de pico, a via corre o risco de ficar o dia inteiro congestionada.
As medidas restritivas à circulação de veículos, seja o rodízio por final de placa, seja a proibição temporária de caminhões, são apenas soluções paliativas para o trânsito. Elas se revelam temporárias porque a situação sempre volta ao estado crítico em algum tempo. E não há possibilidade de revogação das proibições. Isso porque o trânsito permanece ruim mesmo com as restrições, mas ficaria muito pior sem elas.
É o que vemos em muitos casos atualmente hoje: os transportadores descontentes pela restrição e os demais usuários descontentes por não perceberem melhoria.