Luciano Alves Pereira
Revista Carga Pesada
A frase-mestre mercediana resume o óbvio geral. Abertura de mais e mais canais com o cliente é preciso. A proposta da estrela de três pontas é curta: As estradas falam. AMercedes-Benz ouve. Já àCarga Pesadacabe processar o sumo desse rico feedback. Ir além do que falam as estradas, masdepurar o que dizem.A Carga Pesada tocou e ainda toca vários projetos dedicados ao longo dos seus 32 anos. No caso presente, corremos por estradas do Paraná, São Paulo. No capítulo mineiro, o ponto de toque ocorreu na Fernão Dias, km 557 (pista norte), no conhecido Restaurante Casa Branca, à meia altura da serra de Itaguara (MG).
Falar, os passantes falaram muito sobre os temas previstos. Desde como foi a vida estradeira de 2016 e as perspectivasde 2017. No recheio, fretes, preço do diesel, caminhões, até aplicativos. Lírio Lopes, de Piracicaba (SP), foi curto e grosso, ao mesmo tempo, disse tudo: “Passei o ano ganhando menos e trabalhando mais”. Como explicou,“entendi que assim teria de ser”. Ou seja, “sem possibilidades de melhorar”. De olho no próximo ano, adotou “igual ‘modo’ para enfrenta-lo”.
Alexandre de Oliveira mora em Ipatinga, no Vale do Aço mineiro. “Atravessei o ano sem deixar sujar o meu nome no Serasa”, comemorou. Quanto a 2017, conta com o único recurso: “Rezar”. Hoje tocaScania com carreta-baú de dois eixos. Referiu-se positivamente aos produtos Mercedes, tomando como referência – vejam só – o L-1519, com motor de cinco cilindros e sucesso de vendas na década de 1970.
Mercedeiro intransigente, Vicente Vinicius é de Borda da Mata no aprazível Sul de Minas. Profissional de 38 anos de andanças tem um 1620 eletrônico e, para ele, “o ano foi normal, porque mantenho um pé na frente e outro atrás”. Pé que pretende segurar no freio em 2017. Só rodou de Mercedes e formou dois filhos (médico e engenheira). Para resumir o que pensa da Mercedes, ele conta que tocou “1,100 milhão de quilômetros com um L-1618, sem trocar o disco de embreagem”.Já o londrinense Marcos Campos roda com o VW Constelation 24.250 e lembra que a “crise deste ano foi forte”. No entanto, torce para melhorar, “talvez em julho”.
O Restaurante Casa Branca tem mais de 40 anos de atividade e é obrigatório para boa parte dos motoristas de empresas. Estes operam conjunto articulados e seguem para o Nordeste do país, aproveitando a boa relação custo/benefício da Fernão Dias. A discreta diferença para com os autônomos apareceu nas respostas. A charmosaElisandra Gonçalvesé comedida, sem deixar de ser otimista. “Não posso reclamar de 2016, já que não fiquei desempregada”, afirma a motorista da Translovato, de Porto Alegre. Desceu do Scania P-340, de vestido semi-longo e sequer dispensou o salto alto. Sua feminilidade impressionou a reportagem.
DESUMANO − Em segundo momento de sua fala, pareceu cair em contradição quando provocou a roda de ouvintes com o enfático “pior do que está não pode ficar”. Seu alvo, porém,era a total impropriedade dos locais de carga e descarga do país afora. Em segundos, Elisandracitou os CDs do Carrefour, da Tambasa (Contagem/MG),da Tramontina, em Barueri (SP), onde“o condutor não tem o mínimo suportede instalações para esperar a liberação do caminhão”. Se já é desumano para qualquer condutor, imagine se for condutora, casoda Elisandra. Fez questão de mencionar ainda o Posto Modesta, de Tijucas do Sul (SC), na BR-101. “Estechega a não liberar o banheiro e cobra até por água gelada de quem não abastece na parada”, protesta.
No empenho de ouvir a voz da quase sexagenária Fernão Dias, um encontro festivo. Sete estradeiros da mesma Canarinho, de Atibaia (SP), coincidiram com almoço na Casa Branca. A transportadora cresceu verticalmente como agregada exclusiva da Braspress, de São Paulo. Suas operações têm foco nas transferências de longo curso. Wanderlei Ferreira, Roberto Teodoro, José Vicente Dias (Bodinho), Clécio Barbosa, Ernando Carlos, Luciano Silva e Josué Couto de Moraes compõem o quadro da Canarinho e são graduados em encomendas urgentes no país. Embora não lamentassem o passar dos últimos 12 meses, fecham o ano apreensivos. Adiantaram que a transportadora de Atibaia foi vendida para a própriacontratante, a Braspress. Em semanas, a compradora assumirá a administração na cidade onde fica o polêmico sítio do Lula. “Da incorporação esperam-se demissões”, é o temor deles.“Mas até o momento ninguém disse nada”. Sem dispor dos números oficiais, estima-se que a Canarinho opera mais de 300 cavalinhos e cerca de 400 carretas-baús. E, de passagem, vale registrar que a Braspress adquiriu o ‘latifúndio-sede’ da histórica Itapemirim, em Guarulhos (SP) e já se mudou. Para fechar os lances de crescimento em ano de correnteza emdesfavor, a empresa comprou 100 cavalinhos Mercedes, modelo 1933, todos com câmbios automatizados.
Outros importantes estradeiros nos dedicaram atenção, dando contribuição ao projeto da Carga Pesada. O paulista Marco Antônio Rocha destacou o momento de “muita carga” da sua Jamef, de São Paulo. Jorge Moreira, da Transnorte, de Montes Claros, preocupa-se com a “insegurança política do momento”. Laudemir Braz, de BH, é do tempo da Saruana e está preocupado porque seu patrão reduziu a frota. “Só Deus mesmo”, desabafa. Antes de retomar o seu itinerário, discordouda febre de automatização do caminhão: “A profissão vai se acabando. Cambiar é gostoso. Daqui a pouco não haverá mais volante, muito menos pedais. Já pensou?”
Fausto Braga, setelagoano de muita estrada, está em lua-de-mel com o novo Volvo FH 540. Arrasta um bitrem-tanque de sete eixos e reconhece que o ano foi bom para o ramo (reciclagem de lubrificantes). Mas já trabalhou com um Mercedes Actros 2546 (V6), com o qual rodou mais de 600 mil quilômetros.
As estradas dizem mais do que falam. É só apurar o ouvido. Um aprendizado primoroso.
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