Montadora volta a produzir 115 caminhões por dia, volume parecido com o do período pré-pandemia

Depois de mais de dois anos do início da pandemia do novo coronavírus, a fábrica da Scania de São Bernardo do Campo (SP) vai retomar em setembro o ritmo normal de produção de aproximadamente 115 caminhões por dia. Desde abril, a indústria vem reaquecendo seu nível de atividade. Nos 12 meses anteriores, devido à crise global de falta de componentes, chegou reduzir a produção pela metade e, durante dois meses, a planta ficou totalmente paralisada.

“Em setembro a Scania atinge 100% da capacidade produtiva com estabilidade de peças, sem nenhum tipo de atraso e a gente segue com 100% da capacidade até o fim do ano”, afirma o diretor de Vendas de Soluções de Transporte da Scania no Brasil, Alex Nucci. “A gente começa a antecipar um pouco aqueles veículos que eventualmente a entrega tenha sido postergada em função da falta de componentes”, complementa.

Segundo o diretor, a indústria não espera um volume importante de compras antecipadas em virtude da entrada em vigor da nova legislação ambiental (Euro 6) no ano que vem. “Não começou ainda e acredito que isso não vai acontecer, pelo menos não na proporção que foi da transição do Euro 3 para Euro 5 (em 2012)”.
Naquela época, havia muitas incertezas porque, além da nova motorização, entraria no mercado um novo diesel, o S10, e seria introduzida o Arla 32, componente de ureia usado para diminuir a emissão de gases no Euro 5. “Era todo muto novo. O mercado ficou um pouco assustado e acabou comprando antecipadamente um volume grande”, declara.

Diretor de Vendas de Soluções de Transporte da Scania no Brasil, Alex Nucci

Agora, embora a tecnologia dos motores irá mudar “expressivamente”, não há outras novidades. “Então, a pré-compra deve acontecer numa proporção infinitamente menor do que aconteceu”, alega.
A estimativa é que os veículos Euro 6 custem em torno de 20% mais caros, um aumento de preço semelhante ao da virada para o Euro 5. “Por mais que haja aumento de custo por um lado, por outro haverá uma compensação porque os caminhões vêm com um nível de economia bem superior ao que temos hoje”, explica.

O diretor estima que a economia de combustível pode chegar a 8% ou “até um pouco mais”. Por isso, ele garante que a diferença de preço será compensada durante a vida útil do veículo.

CAMINHÃO A GÁS

A Scania segue apostando no seu caminhão a gás como alternativa sustentável ao diesel. O veículo foi lançado em 2019 e pode ser abastecido com gás natural ou biometano. Até agora, a indústria vendeu 600 unidades, tendo entregado 500. No próximo ano, a estimativa é vender ao menos mais 600. Em cinco anos, os caminhões a gás devem representar entre 15% e 20% da produção da Scania no Brasil.

Nucci conta que boa parte da “costa brasileira” já tem infraestrutura para abastecer esses veículos. “Hoje conseguimos ir do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo sem nenhum tipo de problema (para abastecer). Temos uma área de sombra entre o Espírito Santo e a Bahia, onde a rede ainda está sendo desenvolvida”, afirma. Da Bahia ao Rio Grande do Norte, segundo ele, também já há estrutura de postos para o abastecimento. O grande desafio é levar o gás para o interior.

Para o diretor, ao menos por enquanto, o gás é uma alternativa mais viável para o País que os veículos elétricos, já oferecidos pela Scania na Europa. “No Brasil há ainda muitos desafios para a parte elétrica, principalmente porque somos um país com distâncias continentais. Há muito trabalho a ser feito na parte logística de abastecimento e descarte de baterias”, justifica.

POLÍTICA

Nucci diz que as eleições não preocupam o setor automotivo e que não deve haver impacto no mercado de caminhões caso mude o presidente da República. Para o diretor, nem mesmo o financiamento deve sofrer mudanças. Atualmente, com a taxa Selic em alta, entre 55% e 60% das vendas são feitas com dinheiro dos bancos privados, por meio do CDC. O restante é financiado pelo Finame, do BNDES.

A estimativa é que o mercado de caminhões apresente um pequeno crescimento neste ano comparado com 2021, entre 1% e 2%. “Pegando a faixa acima de 16 toneladas, devem ser comercializados entre 100 e 105 mil caminhões”, afirma.